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Desmate para pastagens avança mais rápido que produção de carne

Desmate para pastagens avança mais rápido que produção de carneRecuperação é o caminho para eficiência Foto: Divulgação/Produzindo Certo

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Por André Garcia

O desmatamento vinculado à expansão da pecuária cresceu 36%, enquanto a produção de carne bovina aumentou apenas 15%. Os dados são da plataforma internacional Trase e mostram que esta lógica perdeu a eficiência, já que consome mais área para gerar um volume menor de gado.

O estudo, divulgado na terça-feira (14), mostra que a abertura de áreas para pastagens saltou de 5,5 milhões para 7,5 milhões de hectares entre 2020 e 2023, elevando também a intensidade do desmatamento — isto é, a quantidade de hectares convertidos para cada mil toneladas de carne produzida.

Na Amazônia, a pressão foi ainda maior: em 2020, 893 hectares de vegetação nativa eram convertidos para cada mil toneladas de carne; em 2023, esse número chegou a 1.300 hectares. O relatório destaca que os principais pontos de pressão estão ao longo da BR-163 e da Transamazônica, no Pará, Mato Grosso e Rondônia.

Grande parte do desmatamento associado à pecuária se concentra em poucas regiões. Apenas 61 municípios responderam por metade de toda a conversão de vegetação nativa para pastagens em 2023, mas somaram apenas 11% da produção nacional de gado. Essa disparidade reforça o baixo retorno produtivo de áreas recém-abertas.

Destino da carne

Embora cerca de 70% da carne bovina brasileira seja consumida internamente, o volume exportado cresce de forma consistente. A China domina as compras, absorvendo 59% das exportações em 2023, seguida pelos Estados Unidos (8%) e pela União Europeia (5%).

Nesse cenário, a China é o mercado mais exposto ao desmatamento: a área de vegetação nativa associada à carne exportada ao país aumentou de 124 mil hectares em 2015 para 564 mil hectares em 2023. Nos Estados Unidos, as importações cresceram de 74,5 mil toneladas para 264 mil toneladas, com a exposição territorial subindo de 1,7 mil para 52,9 mil hectares.

Já a União Europeia reduziu sua participação para 3% das exportações, mantendo exposição média de 28 mil hectares por ano – praticamente estável desde 2015. Apesar da redução em volume, o bloco europeu continua como referência nas exigências de comprovação de origem e rastreabilidade.

Mercados ampliam pressão por rastreabilidade

Esses números indicam que a pegada territorial da carne brasileira segue elevada em todos os principais destinos, o que amplia o alerta de risco comercial e reputacional. Em mercados que valorizam origem livre de desmatamento e baixo impacto ambiental, isso pode significar perda de competitividade, não apenas de floresta.

Enquanto a União Europeia demanda prova de origem livre de desmatamento e os Estados Unidos discutem a Forest Act, que restringe a compra de produtos ligados a áreas degradadas, a China já sinaliza que também poderá exigir rastreabilidade do rebanho.

Caminho para eficiência

Para driblar a ineficiência e alavancar o setor, o caminho é único: aumentar a produtividade e reduzir os impactos ambientais. Segundo estudo do Amazônia 2030, a experiência recente do setor mostra que é possível crescer e, ao mesmo tempo, conter o desmatamento — desde que haja incentivos à restauração e fortalecimento do controle ambiental.

A análise da expansão da atividade entre 2000 e 2023 aponta que 64% das pastagens brasileiras – o equivalente a 105 milhões de hectares -, apresentam qualidade baixa ou intermediária. O dado revela o potencial de intensificação produtiva: ao recuperar áreas degradadas e elevar a eficiência das pastagens já abertas, o país pode expandir a produção sem derrubar novas áreas.

 

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