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Entenda como IA pode revolucionar combate ao desmatamento

Entenda como IA pode revolucionar combate ao desmatamentoPrevisIA conta com investimentos da Microsoft. Foto: Imazon

Inteligência Artificial vai ajudar a combater queimadas na Amazônia
Brasil perdeu um terço da sua vegetação nativa nos últimos 37 anos
Amazônia e Cerrado concentraram 89,2% do desmatamento em 2021

Por André Garcia 

Satélites e drones para monitorar florestas, análise de big data e alertas em tempo real são algumas das estratégias da inteligência artificial (IA) no combate ao desmatamento ilegal e outros crimes ambientais. Já utilizada para este fim, a tecnologia deve ganhar ainda mais visibilidade com as crescentes exigências de mercado por cadeias produtivas “limpas”.

A tendência também se estende ao governo, como Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). Uma das metas estabelecidas no documento diz respeito ao Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) por meio da inclusão de inteligência artificial.

Considerando outras frentes, mais que antecipar ações de fiscalização, ela também pode agilizar o processamento de autorização do manejo florestal, reforçando  projetos que já apostam nesta inovação, como o PrevisIA, ferramenta do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Lançada com apoio da Microsoft em 2021, ela áreas sob maior risco de desmatamento na Amazônia.

Em 2022, 80% do desmatamento mapeado pelo Imazon ocorreu em até 4 km do previsto pela PrevisIA. De acordo com ela, se o ritmo de devastação seguir o mesmo, o bioma deve perder mais 11.805 km² em 2023, área equivalente ao tamanho de 10 cidades do Rio de Janeiro. Foi o que adiantou o responsável técnico pela plataforma, Carlos Souza Jr, em dezembro do ano passado.

“Incluímos, também, variáveis que representam barreiras ao desmatamento, entre elas as áreas protegidas [terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas, corpos hídricos e áreas com topografia desfavorável à expansão agrícola, como aclives ou declives acentuados. Esse primeiro componente do modelo explica boa parte do desmatamento”, disse.

Fotos tiradas do espaço

Outra  plataforma que usa IA é a Alarmes. Criada pela pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa/UFRJ), Renata Libonati, ela oferece atualizações diárias, calculadas por inteligência artificial por meio de fotos tiradas do espaço.

Segundo a meteorologista, as dificuldades no dia a dia dos órgãos que fiscalizam e combatem incêndios florestais no Brasil impulsionaram o trabalho. Isso porque, a informação de quanto queimou em determinado evento pode ser determinante para a tomada de decisão durante a ocorrência.

“O satélite pode observar várias características dos incêndios florestais, e uma delas é a área que foi queimada. Até bem pouco tempo atrás, para obter informações sobre a área que foi perdida por um incêndio, nós tínhamos que esperar um mês, dois meses. Se eu souber de forma rápida o quanto e onde já queimou, eu posso colocar meu contingente de combate em outro local, porque o fogo já não vai para a direção que ele já consumiu.”

Os mapeamentos de cicatrizes de fogo, de nascentes, de desmatamento, de abertura de pastagens, dentre outros feitos pelo Map Biomas também conta com a inteligência artificial a partir do uso de algoritmos de aprendizagem de máquina (deep learning). O trabalho se dá a partir da plataforma Google Earth Engine e Google Cloud Storage que oferecem imensa capacidade de processamento em nuvem.

Falando sobre a inciativa privada, é preciso destacar o Earth Timelapse, da Google, que foi atualizado com imagens de satélite de 2020 a 2022. O mecanismo é um recurso do Google Earth, réplica digital do planeta Terra em 3D.

Desastres na Amazônia

A IA do Google também será usada para detectar e alertar, na Busca e no Google Maps, sobre possíveis desastres na Amazônia. Para isso, a empresa atua em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Há ainda uma página especial do Google Trends com dados em tempo real sobre assuntos relacionados a mudanças climáticas e sustentabilidade.

Lá, as buscas pelo termo Amazônia, subiram mais de 80% nos últimos dez anos; no mundo, a alta passou de 40%. O levantamento também mostra que o Brasil é o 2º país que mais procurou por clima em 2023, atrás apenas da Argentina.

Mato Grosso conta com ferramenta

Um bom exemplo de como estes serviços podem ser incorporados pelos órgãos de fiscalização é o projeto Satélite Alertas do Ministério Público do Estado Mato Grosso (MPE-MT), que desde 2020 faz o cruzamento de dados de áreas desmatadas e queimadas com áreas lançadas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) na região. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por meio de um convênio firmado entre as instituições.

Conforme o MPE-MT, até setembro de 2022 foram identificados 598.004,1356 hectares (ha) de desmatamentos ilegais, seja por meio de dados do Inpe ou dos autos de infração da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT). Foram emitidos ainda 766 relatórios técnicos e elaboradas 14.004 minutas jurídicas, que resultaram em 315 ações civis públicas, cinco ações penais, 936 inquéritos civis e 321 notícias de fato.

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