Na Amazônia, produtores que apostam em sistemas agroflorestais (SAFs) podem ganhar até nove vezes o valor investido, segundo estudo da Embrapa e do Banco Mundial que avaliou quatro modelos produtivos na região. Combinando culturas agrícolas, espécies florestais e pecuária, a estratégia mostrou rentabilidade superior a modelos tradicionais.
A lógica dos SAFs é simples: no começo, o produtor planta culturas de crescimento rápido, como milho, feijão ou banana, para garantir renda imediata. Enquanto isso, espécies como cupuaçu, açaí e cacau se desenvolvem. Quando essas árvores começam a produzir, passam a gerar um lucro maior e constante, fortalecendo o fluxo de caixa.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, Judson Valentim, a diversificação da produção também aumenta a resiliência das propriedades frente às mudanças climáticas, que vêm intensificando as perdas no campo nos últimos anos. Outro ponto positivo é a geração de empregos e renda.
“Se em um ano uma lavoura apresenta um preço ruim, há um segundo produto que pode ter um preço melhor. Isso aumenta a resiliência do produtor, que não vai depender de apenas um produto”, explica.
Diversificação e aumento de renda
Cada modelo estudado seguiu uma estratégia diferente. No primeiro, milho, arroz e feijão sustentam a renda nos primeiros anos. Depois, pupunha e cupuaçu assumem o protagonismo. No segundo, a banana é responsável por 60% da receita inicial. Em seguida, entram em cena o palmito, a andiroba e a pupunha para sementes.
Já o terceiro sistema começa com pimenta-do-reino. A partir do quinto ano, o cupuaçu passa a ser a principal fonte de lucro, junto com o açaí e a madeira de paricá. O quarto também inicia com pimenta-do-reino, mas ganha força a partir do sétimo ano com a entrada do cacau e, depois, do açaí, que se torna o produto mais rentável.
Todos os SAFs conseguiram cobrir os custos de produção, mas os dois últimos tiveram os melhores resultados, pois trabalham com produtos mais valorizados no mercado, como açaí e cacau. O modelo mais rentável foi o SAF 4: para cada US$ 1 investido, ele gerou US$ 9,20 de volta, quase nove vezes o valor aplicado.
O SAF 3 também se destacou, com retorno de US$ 5,60 para cada dólar investido. Nos sistemas mais tradicionais, os ganhos foram menores. O SAF BR-RO 1 retornou US$ 2,50 por dólar investido, enquanto o SAF-BR RO 2 ficou em US$ 1,75, mesmo exigindo um investimento inicial 1,8 vez maior.
Planejamento e crédito adequado
Valentim explica que, nos anos iniciais dos SAFs, o gasto é maior devido ao uso de insumos, mão de obra e equipamentos para o estabelecimento das culturas, além da menor diversificação dos produtos comercializados. Por isso, o planejamento é fundamental para o sucesso da estratégia.
“Para um SAF se manter rentável ao longo dos anos, é preciso considerar o tempo para cada componente produzir, bem como possibilitar uma safra de ciclo rápido, de baixo custo e que mantenha um fluxo de caixa positivo”, afirma o pesquisador, ao destacar que a estimativa de retorno para o pagamento de financiamentos é de seis anos.
Para ele, o estudo é uma base importante para a implementação de políticas públicas de crédito rural, sobretudo para a produção familiar na Amazônia. Além disso, os resultados reforçam que as políticas de financiamento para os SAFs devem prever um tempo de carência mais longo.
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