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Biodiversidade do Cerrado no Brasil Central pode gerar polo de frutas

Biodiversidade do Cerrado no Brasil Central pode gerar polo de frutasfruticultura é opção para qualquer perfil de produtor. Foto: Embrapa

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Por André Garcia

Cajuzinho, pequi, buriti, murici, mangaba, mama-cadela, baru, umbu, araticum, bacuri, cagaita e bocaiuva são só alguns dos exemplos da diversidade de frutos do Cerrado, segundo maior bioma do País. Distribuídas entre 15 estados, estas espécies têm elevado valor nutricional, sabor e aroma característicos. Além disso, apresentam alto potencial para o agronegócio.

Nesta semana em que se comemora o Dia Internacional da Diversidade Biológica, o Gigante 163  tem mostrado alguns exemplos de como a biodiversidade pode ser convertida em ganhos nos diferentes ecossistemas brasileiros.

De acordo com a Embrapa, as características do Cerrado Central podem transformá-lo, nos próximos anos, no mais novo polo de frutas do Brasil. Inclusive a partir de investimento e pesquisa em cultivares típicos de outros biomas. É o que já acontece na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE/DF), por meio de um projeto de plantio comercial não extrativista do açaí, comum na região amazônica.

No final de 2022 foram plantados mil hectares de açaí, envolvendo a participação de cerca de 100 cooperativas e mais de mil agricultores familiares do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais. A meta é chegar a mais de um milhão árvores plantadas neste ano.

No caso das espécies nativas, uma das mais promissoras é o Baruzeiro. O fruto é uma excelente escolha para plantio em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e pode substituir o eucalipto, gênero mais utilizado nesta estratégia. A vantagem do baru é que, além da madeira, a árvore produz uma valiosa semente.

O baru, cumaru ou cumbaru, como é conhecido, assemelha-se a uma castanha e a demanda por ele tem crescido nos últimos anos no Brasil e no exterior. A previsão de crescimento de sua comercialização é de 25% ao ano entre 2019 e 2029, segundo artigo publicado na revista de pesquisas sobre mercados Fact.MR.

A Embrapa aponta que o Brasil é o principal país que produz essa espécie. Quase metade da produção das sementes é vendida para o exterior: 25% para a Europa e outros 22% para os Estados Unidos. Um dos motivos do aumento da comercialização desse produto, segundo a publicação, é a busca por alimentos saudáveis.

Os frutos vêm do extrativismo, o que pode ajudar no aumento de renda das comunidades tradicionais. No entanto, a demanda pode ser maior do que o País tem capacidade de fornecer. Por isso, é fundamental o desenvolvimento de sistemas de plantios comerciais da espécie.

Além disso, como já mostrado pelo Gigante 163, o baru tem potencial para a produção de carvão convencional e ativado, segundo estudos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat). A espécie com potencial madeireiro e não madeireiro é a Dipteryx alata Vogel, conforme explicou o coordenador da pesquisa, Lucas Trindade.

“É uma espécie com presença expressiva no Cerrado e em regiões de transição do Pantanal, com enorme viabilidade econômica, pois sua madeira e ampla utilidade do seu fruto possuem capacidade para agregação de valor e geração de renda tanto com a extração de sua castanha, quanto com a produção de carvão do endocarpo (fruto)”, descreve publicação do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).

Um estudo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), também aponta a viabilidade de óleos funcionais extraídos do baru e do pequi na dieta de frangos de corte.   O objetivo é encontrar produtos alternativos aos antibióticos melhoradores de desempenho de aves.

Óleo de pequi. Foto: Agência Brasil

Os pesquisadores contam que a escolha pelo uso dos óleos funcionais de origem do cerrado se dá pelo grande poder antimicrobiano, que seleciona bactérias boas dos animais, melhorando a flora intestinal.

“Esses óleos se destacam por terem uma capacidade de atuar com moduladores de microbiota intestinal, e melhoradores de sistema imunológico dos animais e de seu crescimento”, destaca o doutor em Zootecnia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Jean Kaique Valentim.

Também na UFMT, pesquisadores desenvolveram no ano passado um projeto que visa misturar frutas nativas do Cerrado mato-grossense à cerveja. Conhecida como fruit beer – cerveja com adição de fruta -, essa variedade busca conferir à bebida aromas e sabores diferenciados. Inicialmente foram testados o caju e o tamarindo, mas a as opções podem ser expandidas a outras inúmeras espécies.

Ações de pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia e inovação relacionadas à tropicalização da fruticultura no Cerrado vem se transformando desde a década de 70. Para aumentar este potencial, contudo, as iniciativas devem ser tratadas de forma empresarial. É o que enfatiza o pesquisador e chefe-adjunto de transferência de tecnologia da Embrapa Cerrados, Fábio Faleiro.

“A região do Cerrado é próspera para a fruticultura. Temos mais de um milhão de imóveis rurais, sendo a maior parte de pequenos agricultores. E a fruticultura é uma excelente opção para a viabilidade econômica na pequena propriedade. É fundamental que os produtores, independente do perfil, utilizem a tecnologia no sistema de produção”, avaliou em publicação da Embrapa.

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