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Tarifaço pressiona cadeia do algodão, que vê oportunidade na Ásia

Tarifaço pressiona cadeia do algodão, que vê oportunidade na ÁsiaEfeitos podem se refletir na demanda interna por algodão. Foto: CNA

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Por André Garcia

Embora o Brasil não exporte a pluma in natura para os Estados Unidos, sendo os dois países concorrentes diretos nesse mercado, o tarifaço de 50% anunciado recentemente pelo presidente norte-americano, Donald Trump, gera apreensão quanto aos desdobramentos indiretos para a cadeia produtiva nacional.

A principal preocupação está na indústria têxtil brasileira, que é o maior mercado consumidor de algodão do país e exporta parte significativa de seus produtos acabados, como jeans e artigos de cama, mesa e banho, para os Estados Unidos.

Isso porque, caso a medida afete essas exportações, os efeitos podem se refletir na demanda interna por algodão e comprometer o equilíbrio da cadeia como um todo. Foi o que explicou o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero, em entrevista ao Jornal da CBN.

“O impacto pode vir pela indústria têxtil brasileira, que é o sétimo maior player industrial do mundo e o grande produtor de matéria-prima acabada (cama, mesa e banho, jeans, malhas) e os Estados Unidos representam 4% das exportações de produtos industrializados têxteis do Brasil para lá. Isso pode sofrer um impacto natural”, disse.

Redirecionamento entre blocos

Em 2002, um embate comercial entre Brasil e Estados Unidos ficou conhecido como “Guerra do Algodão”. Mais de duas décadas depois, o cenário geopolítico mudou: os mercados asiáticos ganharam protagonismo e o redirecionamento entre blocos e parceiros comerciais pode alterar significativamente os fluxos globais de exportação.

“O mundo está se reposicionando, os blocos estão se encontrando para discutir soluções e isso vai fortalecer [a relação do Brasil] com outros grandes blocos econômicos como a União Europeia e a Ásia. A gente deve sobreviver, mas o impacto imediato é muito grande e o susto é maior ainda, porque o que sabemos fazer é produzir matéria-prima.”

Com um total estimado em quase 4 milhões de toneladas, a colheita da pluma no Brasil deve terminar em cerca de 40 dias, e a produção já está toda negociada. O principal destino é o continente asiático, mas o mercado interno também tem peso relevante: são cerca de 730 mil toneladas consumidas anualmente por aqui.

Marcio Portocarrero. Foto: Reprodução Abrapa

Produtores pedem estabilidade e diálogo

No início de julho, Trump anunciou que as tarifas sobre todos os produtos importados do Brasil passariam a valer a partir de 1 de agosto. Desde então, segundo Marcio, não houve rompimento de contratos por parte dos clientes brasileiros, e os embarques seguem normalmente. Ainda assim, há incertezas.

“É aqui que está a nossa maior preocupação, se houver uma queda brusca de demanda por produtos têxteis, a gente pode ter problema aqui nas vendas para o mercado interno brasileiro. Até agora não recebemos nenhuma notícia de clientes nossos de rompimento de contrato, está tudo correndo normalmente”, explicou.

Diante disso, a Abrapa reforçou recentemente o pedido de regras de mercado claras, estáveis e justas. Também recomendou que o governo busque as vias da diplomacia para ampliar o diálogo institucional, revertendo as recentes medidas do governo dos Estados Unidos e mitigando impactos ao setor produtivo.

Para avançar nas negociações e tentar derrubar a medida, o Brasil aguarda um sinal da Casa Branca sobre as cartas já encaminhadas ao governo americano por meio do USTR sigla para United States Trade Representative (em tradução livre, Representante Comercial dos Estados Unidos).

Produção de alto custo exige previsibilidade

O presidente da Associação lembrou  ainda que a cotonicultura exige alto investimento dos produtores e que por isso o mercado global é altamente sensível a fatores climáticos, econômicos e políticos. Para se ter ideia, o custo médio por hectare é de R$ 22 mil, e apenas a aquisição de colhedoras pode ultrapassar US$ 1,4 milhão.

Para viabilizar o cultivo, cerca de 30% do financiamento vem de adiantamentos feitos pelas tradings compradoras, outros 30% de operações de barter com empresas de insumos, 20% de empréstimos bancários com taxas diferenciadas e os 20% restantes por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

 

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