Por André Garcia
O Brasil está abrindo caminho para o turismo rural. De legislação própria à possibilidade de formalização dos produtores, passando pela ampliação de financiamentos, o setor ganha condições mais seguras para quem deseja transformar a propriedade em fonte de renda complementar.
A experiência da Família Masiero, em Sinop, mostra que isso é possível. Pioneira no turismo rural no norte do estado, a família formada por Nelson e Cecília, o filho Marcus e a nora Valdirene administra há 20 anos uma propriedade de seis hectares a cerca de 25 quilômetros do centro do município.
O projeto começou de forma inesperada, quando um ensaio fotográfico entre os parreirais foi parar nas redes sociais. A reação do público foi imediata. As pessoas queriam conhecer o espaço, caminhar entre as videiras, experimentar produtos feitos na propriedade e viver um pouco da rotina rural.
“Nossa filha Indianara sugeriu tirar algumas fotos para registrar o momento. Quando publicamos nas redes sociais, as pessoas começaram a pedir para conhecer o local. Assim nasceu a rota turística — um negócio rentável e bem-sucedido”, conta Cecília, que há 20 anos saiu de Santa Catarina com o marido rumo a Mato Grosso.
Café da manhã de sucesso
Foram justamente as raízes sulistas do casal que deram as bases para o empreendimento. Hoje, o café colonial típico italiano e os produtos artesanais são o carro-chefe de uma rota turística que atrai mensalmente cerca de 100 visitantes, incluindo de outros estados.

Foto: Reprodução/Sebrae-MT
“Além do café, vendemos produtos feitos na propriedade e conduzimos visitas aos mais de 500 pés de uva plantados. Não era algo planejado, mas com o tempo o projeto foi tomando forma, e o apoio do Sebrae foi essencial nesse processo”, destaca Marcusi Masiero, que hoje gerencia a propriedade.
O Sebrae-MT ofereceu consultorias e treinamentos voltados para a gestão, atendimento, estruturação do roteiro e precificação.
“O turismo rural cresce em Mato Grosso, e histórias como essas servem de inspiração. É possível empreender com identidade, afeto e bons resultados”, afirma Rafael Dinartte, analista técnico da instituição.
Cenário favorável
Neste ano, a Câmara dos Deputados aprovou a Política Nacional de Fomento ao Turismo Rural, criando diretrizes para quem deseja investir no setor. Além disso, o Ministério do Turismo (MTur) passou a permitir que agricultores familiares e produtores rurais que atuam em atividades turísticas se formalizem sem perder os benefícios da agricultura.
Na área financeira, linhas como o Fungetur facilitaram investimentos em infraestrutura, comunicação e atendimento. A agenda ainda ganhou impulso internacional com o anúncio, durante a COP30, do 4º Leilão do Eco Invest Brasil, voltado à bioeconomia e ao turismo sustentável na Amazônia.
Liderado pelos Ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente, o programa já mobilizou mais de R$ 75 bilhões em investimentos para atividades sustentáveis, abrindo novas oportunidades para o campo. Foi o que destacou no lançamento o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“O Eco Invest já movimentou mais de R$70 bilhões provando que dá para desenvolver a economia real de forma moderna e sustentável. Esta nova edição, focada na Amazônia, mostra que a floresta em pé gera mais valor e mais oportunidades do que a devastação, impulsionando tecnologias e cadeias produtivas adequadas à região”, disse.
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