Pequenos produtores e comunidades tradicionais de Corumbá e Ladário, em Mato Grosso do Sul, estão buscando formas de enfrentar os impactos das mudanças climáticas no Pantanal.
É notório que agricultura familiar da região já sente os efeitos de secas prolongadas, ondas de calor e chuvas irregulares, como apontam resultados preliminares da pesquisa “Mudanças Climáticas e Agricultura Familiar: Vulnerabilidade, Impactos e Estratégias de Resiliência”, desenvolvida na Paisagem Modelo Pantanal (PMP) com apoio da EcoAgriculture Partners.
A coordenadora do estudo, Luciana Vicente, explica que esses fenômenos têm causado perdas na produção agrícola, morte de animais, queda na produtividade de hortaliças e abandono de culturas como milho e feijão.
“Os resultados preliminares revelam um conjunto de estratégias adaptativas já em curso nas comunidades: uso de cisternas, sombrites, irrigação, criação de animais mais resistentes ao calor e, especialmente, o fortalecimento dos SAFs (Sistemas Agroflorestais) com irrigação movida a energia solar”, afirma Luciana Vicente.
Segundo ela, a adoção de espécies nativas e o resgate de sementes crioulas têm fortalecido a resiliência local, garantindo segurança alimentar e diversidade genética.
PMP e diversidade social
A PMP, onde ocorre o monitoramento, é uma plataforma de governança que integra diversos setores para a resolução de problemas ambientais e sociais. A iniciativa, apoiada pelo Serviço Florestal Canadense, está localizada na borda oeste do Pantanal. Segundo Rafael Chiaravalloti, biólogo e integrante da equipe, essa região abriga ecossistemas variados, desde áreas inundáveis até campos de altitude, além de fauna e flora ameaçadas de extinção.
Já o coordenador André Nunes lembra que essa diversidade também é social e ressalta que “é importante frisar que nós temos populações tradicionais, que usam recursos naturais, até empresas que utilizam recursos naturais não renováveis, como é o caso da mineração que temos na região. Ou seja, é uma região com uma elevada sociobiodiversidade”.
Os estudos ainda estão em andamento e devem ser concluídos até março de 2026 e o objetivo é fornecer dados e recomendações práticas que possam fortalecer a agricultura familiar e preparar as comunidades para eventos climáticos cada vez mais extremos.
A pesquisa combina métodos participativos e científicos, incluindo entrevistas com agricultores, análises temáticas e estatísticas, além do cruzamento com projeções do IPCC para 2030, 2050 e 2070. Um dos focos é o cálculo do IVMC (Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas) na região.
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