A partir da próxima safra, o manejo de solo para cultura da soja passa a ser considerado no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). A novidade começa com um projeto piloto no Paraná e traz uma mudança importante: boas práticas de manejo, que ajudam a reter mais água no solo, agora entram no cálculo de risco climático da lavoura.
A nova fase, chamada Zarc Níveis de Manejo (ZarcNM), foi criada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em parceria com a Embrapa. Com isso, produtores que adotarem práticas conservacionistas terão percentuais maiores de subvenção no seguro rural. A Instrução Normativa, publicada em julho (veja aqui), regulamenta o programa, que já tem R$ 8 milhões destinados para a primeira fase.
Segundo Diego Melo de Almeida, diretor do Departamento de Gestão de Riscos do Mapa, essa evolução é fruto de mais de dois anos de trabalho com a Embrapa.
“A safra de verão será o pontapé inicial, mas esperamos seguir no aprimoramento da metodologia e ampliar o alcance e a alocação de recursos para as próximas safras”, explicou.
Manejo faz toda diferença
De acordo com o pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja, o manejo do solo faz toda diferença para enfrentar períodos de seca, que são a principal causa de perdas na soja.
“O ZarcNM evidencia a redução de risco por meio de uma estratégia de manejo bem conduzida, uma informação fundamental para o produtor, para as atividades de planejamento agrícola e para o seguro rural”, afirma.
Na prática, quanto melhor o nível de manejo, maior será o apoio do seguro. O percentual de subvenção pode chegar a 35%, enquanto o valor padrão para a soja é de 20%. O ZarcNM define quatro níveis de manejo, de NM1 a NM4, de acordo com seis indicadores: tempo sem revolvimento do solo, cobertura de palhada, diversificação de culturas, saturação por bases, teor de cálcio e saturação por alumínio. Práticas como rotação de culturas e cuidado com a fertilidade do solo ajudam a infiltrar mais água e evitar perdas.
Segundo Farias, as áreas classificadas como NM1 são as que têm mais risco de perda por seca. Já NM3 e NM4 representam manejo mais avançado, com melhor conservação da água e do solo.
O projeto-piloto foi validado em 201 áreas do Mato Grosso do Sul e 62 propriedades do Paraná. Para funcionar, foi criado o Sistema de Informações de Níveis de Manejo (SINM), desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital. Nele, dados do histórico da área, análises de solo e imagens de satélite são reunidos para classificar o nível de manejo. A proposta do seguro é feita a partir dessa classificação.
O pesquisador Eduardo Monteiro, coordenador da Rede Zarc, explica que o sistema será operado por cooperativas, seguradoras, laboratórios e empresas credenciadas. As cooperativas têm um papel essencial e muitas já acompanham as boas práticas e podem ser facilitadoras para os produtores. Um exemplo é a Cocamar, que vai testar o projeto com 20 cooperados.
A metodologia está sendo detalhada no Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2025, neste 22 de julho, com palestras de pesquisadores da Embrapa e do Mapa. A expectativa é expandir o modelo e incentivar o manejo sustentável, fortalecendo a produtividade e a resiliência do agro.
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