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Gases do efeito estufa batem recorde e apontam para prejuízos no agro

Gases do efeito estufa batem recorde e apontam para prejuízos no agroGEE aceleram aquecimento global, que intensfica seca e queimadas. Foto: Araquém_Alcântara/WWF Brazil

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Por André Garcia

Castigados por sucessivos eventos extremos nos últimos anos, os produtores rurais do Brasil têm motivos de sobra para se preocuparem com o futuro. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2023 registrou um novo recorde de gases de efeito estufa (GEE) concentrados na atmosfera, o que acelera o aquecimento global e anuncia a continuidade e, provavelmente, o agravamento dos efeitos dos extremos climáticos sobre o agronegócio nos próximos anos.

Segundo relatório publicado nesta segunda-feira, 28/10, o planeta atingiu valores máximos nas concentrações de metano (CH₄), óxido nitroso (N₂O) e dióxido de carbono (CO₂), o principal gás-estufa relacionado às atividades humanas. Representando 64% do efeito do aquecimento no clima, o CO₂ tem se acumulado na atmosfera mais rápido do que nunca, com alta de 11,4% em 20 anos. Em 2023, a média global de concentração da substância foi de 420 partes por milhão (ppm), 2,3 ppm a mais que em 2022.

Os resultados dessa fórmula já assolam o Brasil, que neste ano enfrentou a pior seca de sua história, com estiagem prolongada e recordes de escassez em rios importantes. Com isso, as queimadas explodiram, consumindo 22,38 milhões de hectares de todo o território entre janeiro e setembro, uma alta de 150% em relação ao mesmo período de 2023.  No extremo oposto da seca, as enchentes devastaram o Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2023.

“Incêndios florestais podem liberar mais carbono na atmosfera, enquanto o oceano aquecido consegue absorver menos CO₂. Consequentemente, mais CO₂ poderia permanecer na atmosfera, acelerando o aquecimento global. Esses ‘feedbacks’ climáticos são preocupações críticas para a sociedade humana”, afirma a vice-secretária-geral da OMM Ko Barret.

Se a natureza ainda não teve tempo de se recuperar das catástrofes, tampouco os produtores puderam se reestruturar. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CMN), as mudanças climáticas causaram prejuízo de R$ 6,67 bilhões ao agronegócio só em 2024. Divulgado em agosto, o levantamento considera extremos como a chuva no Rio Grande do Sul e a seca na região Norte, regiões que tiveram perdas de 5,41 bilhões e R$ 1,1 bilhão respectivamente.

Enfrentamento

Conforme a OMM, na segunda metade do ano passado o retorno do fenômeno climático El Niño, após três anos de La Niña, contribuiu para uma maior liberação de carbono, especialmente em regiões onde houve incêndios florestais intensos, como o Canadá e a Austrália. Neste ano, certamente o Brasil entrará para a conta. Para se ter ideia, de janeiro a junho as queimadas resultaram na emissão de 31,5 milhões de toneladas de CO², chegando a alta de 60% nas emissões de GEE.

O cenário é bastante desafiador para as futuras gerações de produtores e exige que governos de todo o mundo reduzam rápida e drasticamente as emissões de GEE, que também bateram recorde em 2023, com 57,1 gigatoneladas de CO₂ lançadas à atmosfera, uma alta de 1,3% em relação a 2022. No Brasil, onde essas emissões resultam principalmente do desmatamento e das queimadas, o tema precisa ser enfrentado em parceria pelo governo e pelos setores econômicos.

Os números mostram que, embora ainda seja tecnicamente possível limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C, considerado pelos cientistas o teto para impedir os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas, isso está cada dia mais difícil. Por isso, no agronegócio a redução de danos não está garantida pela adoção de práticas sustentáveis, dependendo também de um posicionamento mais incisivo no combate à devastação, que enriquece poucos produtores enquanto penaliza todo o setor.

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