Por André Garcia
Uma massa de ar polar derrubou as temperaturas para quase 3°C e causou sensação térmica negativa em várias regiões de Mato Grosso do Sul. As geadas já registradas em alguns municípios impactaram lavouras de milho e acenderam o alerta no campo sobre os efeitos do frio nas plantações e no rebanho.
O cenário coloca em risco o milho da segunda safra que está em fase de enchimento e maturação dos grãos. Hoje, 48% das lavouras do estado estão em estágios mais sensíveis ao frio, conforme destacado pelo coordenador técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja/MS), Gabriel Balta.
“Desse total, 24% encontram-se no estágio R4, quando o grão está pastoso e ainda em formação, e nessa fase, uma geada pode provocar perdas de 25% a 40% no potencial produtivo. Isso ocorre porque o frio intenso compromete o enchimento adequado dos grãos e, consequentemente, a produtividade final”, afirmou.
A analista da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Lenise Castilho, explica que o risco se estende a outras culturas agrícolas. “Milho safrinha, feijão, hortaliças e frutíferas tropicais são os mais vulneráveis, podendo sofrer queima foliar, perda de área fotossintética e até abortamento de grãos”, diz.
Prejuízos na pecuária
Na pecuária, os prejuízos são mais imediatos. A geada queima a vegetação das pastagens, comprometendo o valor nutricional e dificultando a alimentação do rebanho. Segundo a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (IAGRO), em 2024 foram mais de três mil mortes de bovinos por hipotermia em 14 municípios do estado.
“Além da perda de peso e do estresse térmico, o frio intenso enfraquece o sistema imunológico dos animais, tornando-os mais suscetíveis a doenças respiratórias. Bezerros, vacas prenhes e animais idosos são os mais vulneráveis”, aponta o consultor da Famasul Diego Guidolin.
No caso da suinocultura e da avicultura, o frio intenso exige atenção especial ao manejo sanitário e ao conforto térmico. Assim, é preciso redobrar cuidados com o ambiente, ventilação, aquecimento e fornecimento hídrico, especialmente nas pequenas propriedades, com infraestrutura mais limitada.
A queda na temperatura ambiente, se não compensada por sistemas de aquecimento adequados, pode comprometer o desempenho dos animais, afetando taxas de conversão alimentar, crescimento e produção de carne ou ovos. A exposição prolongada ao frio também eleva o risco de doenças respiratórias.
Reduzindo danos
Para reduzir os impactos, o Sistema Famasul orienta os produtores a reforçarem a suplementação alimentar, manterem fontes de abrigo naturais ou artificiais nas propriedades e ficarem atentos a sintomas de hipotermia.
“A adoção rápida de boas práticas de manejo é essencial para preservar o bem-estar animal, evitar perdas econômicas e manter a resiliência da pecuária sul-mato-grossense frente às oscilações climáticas”, reforça Diego.
Nas áreas em ponto de colheita e aguardando apenas a redução da umidade dos grãos, os efeitos da geada tendem a ser pontuais, impactando mais a qualidade do que a produtividade. Já nas áreas ainda em desenvolvimento, os riscos são maiores.
Previsão do tempo
De acordo com o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec), não há previsão de novas geadas nos próximos dias. A chuva deve retornar a Mato Grosso do Sul entre quinta-feira, 27/6, e sexta-feira, 28/6,, especialmente na região centro-sul. Com isso, espera-se aumento gradual das temperaturas no estado.
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