Por André Garcia
Julho, considerado o mês mais frio do ano, derrubou as temperaturas em boa parte do Centro Oeste, com destaque para o Mato Grosso do Sul, onde a sensação térmica chegou a patamares negativos em algumas regiões. Diante do cenário, especialistas alertam para o aumento das Doenças Respiratórias Bovinas (DRB) nos rebanhos brasileiros.
Em um momento em que as margens de lucro em confinamento superam 10%, segundo Cepea, não há espaço para deslizes. Ao Gigante 163, os médicos veterinários Vitor Hugo Padilha e Marlon Ribeiro reforçaram que a prevenção é mais eficaz e mais barata que o tratamento. Por isso é preciso ter foco no manejo.
“Prevenir é melhor que remediar. Então é muito importante que os animais mantenham uma qualidade sanitária e nutricional adequada para poderem enfrentar esse desafio. O produtor também tem que ficar de olho na previsão do tempo para se preparar as inversões térmicas”, reforça Vitor.
De acordo com Marlon, que também é professor da Universidade de Cuiabá (UNIC), essas inversões é que representam o maior risco, uma vez que o gado da região está acostumado a temperatura muito alta e de repente lida com uma queda abrupta nos termômetros Isso derruba a imunidade dos animais, aumentando a predisposição às DRBs.
Diante dessas situações, uma das opções é reunir os animais em remanga ou em um piquete mais curto, permitindo que enfrentem a friagem aglomerados. Desta forma, a própria temperatura dos bois ajuda a manter o rebanho aquecido.
“Uma outra alternativa, para propriedades que não têm essa possibilidade, é colocar os animais em áreas com bastante árvore, para que as árvores funcionem como quebra-vento e acabem amenizando esse impacto do vento, que rouba a temperatura dos animais”, epxlica Marlon.
Cuidados no confinamento
Além das pastagens, o confinamento exige cuidados redobrados. Neste caso, os animais permanecem em áreas reduzidas e com alta densidade, o que aumenta o risco de transmissão de doenças respiratórias. A atenção começa logo na entrada dos animais, com um protocolo sanitário bem definido, incluindo vermifugação e vacinas respiratórias para evitar surtos.
Outro ponto importante destacado por Vitor é a poeira em excesso, que pode agredir o pulmão dos bois e facilitar a entrada de doenças. Segundo o veterinário, é importante controlar a moagem da ração, que não pode ser muito fina, e usar barreiras como cercas vivas ou lonas para bloquear o vento. Esses quebra-ventos ajudam a proteger o rebanho do estresse térmico.
Atenção aos animais mais jovens
Vitor também chama a atenção para o fato de que animais mais jovens, até os 21 ou 24 meses, são mais suscetíveis – especialmente aqueles abaixo de 18 meses. Diante disso, uma das principais estratégias é a aplicação correta das vacinas respiratórias, principalmente nesta categoria.
“O maior desafio está relacionado aos bezerros: quanto menor a idade, mais suscetível o animal se torna. O animal vermifugado e que tem a vacina contra doenças respiratórias, acaba se beneficiando por não apresentar doenças secundárias ou, por apresentar uma possibilidade bem reduzida em relação aos não vacinados”, acrescenta.
Para Marlon, a melhor forma de evitar prejuízos é antecipar os riscos.
“O produtor tem que contar sempre com um veterinário sanitarista para identificar os fatores de risco na propriedade, evitando que os animais cheguem nessa época clássica do frio sem abrigo adequado. Essa é uma das principais recomendações”, conclui.
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