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Saber tradicional e geração de renda: indígenas criam agroindústria de babaçu

Saber tradicional e geração de renda: indígenas criam agroindústria de babaçuCastanha de babaçu colhida pelos Paiter Suruí. Foto: Vitória Lopes/REM-MT

Plano de ações aposta na agroindústria sustentável
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População empregada no agro somou 19,09 milhões no 2º trimestre

Por André Garcia

Com utilização que vai da culinária à cosmética, passando pela aplicação medicinal, a versatilidade do babaçu tem garantido ao povo indígena Paiter Suruí segurança alimentar e autonomia financeira. Na Terra Indígena 7 de setembro, entre Rondolândia (MT) e Cacoal (RO), a extração e beneficiamento do fruto amazônico estruturou uma cadeia agroindustrial.

Tudo começou com o Projeto Babaçu Toroya, que deu origem a uma associação que viria, mais tarde, a consolidar a indústria. Organizados, os indígenas aliaram em uma proposta seus saberes tradicionais à necessidade de geração de renda, garantindo investimento de R$ 1.349.5600 do Programa REM MT, além de capacitação e apoio no marketing e na venda dos produtos.

É o que conta o tesoureiro do projeto, Izanoel Irpererró Suruí.

“A gente estava fazendo artesanalmente. Estávamos vendendo a farinha e o óleo para a comunidade próxima. Só que a vigilância viu a forma como estávamos trabalhando e barrou. Então, a gente pensou em construir a agroindústria.”

O desafio trouxe conhecimento à comunidade, que, até então, desconhecia conceitos de marketing, por exemplo. Além disso, agora, de acordo com o coordenador do projeto, Isaque Mopilo’ava Suruí, eles estão finalizando a construção de um barracão próximo do babaçual, em contato direto com a Amazônia.

“A estratégia que iniciamos dentro do processo foi de georreferenciamento, que é o trabalho no campo, e também a unidade onde que vai ficar a agroindústria, com licenciamento prévio, instalação operacional e também o plano de negócios, o plano de gestão e o marketing”, diz.

Segundo o engenheiro agrônomo e coordenador das AFPCTs, Marcos Balbino, a indústria deve começar a operar assim que for estabelecido acesso à energia trifásica, indispensável para o seu funcionamento. Os indígenas já estão em busca de apoio para resolver o problema.

“A agroindústria é o ponto chave do projeto deles e já está levantada. Está faltando algumas coisas de acabamento, mas os equipamentos já estão comprados, estão no fornecedor para não danificar. Eles têm um problema com a energia elétrica, que é um problema que depende da ação pública local, prefeitura e parceiros”, pontua Marcos.

Plano de negócios

O plano de negócios dos Paiter Suruí já está construído. A proposta é atender tanto o varejo quanto o atacado com produtos que vão carregar a marca do povo Suruí. Isso porque, da semeadura à comercialização, a cadeia produtiva envolve a participação de toda a etnia, que vem se fortalecendo a cada passo nesse processo.

“Aqui já temos uma pessoa formada em Direito e Administração, técnico em Enfermagem, e minha irmã fazendo Contabilidade. O nosso objetivo é trazer esse profissional para o projeto. Imagina agregar esse pessoal, que vai fazer a gestão da agroindústria e do seu território e fazer o protagonismo Paiter? Isso é o nosso sonho, esse é o nosso objetivo”, afirma Isaque.

Manejo e utilização do babaçu

A partir de saberes tradicionais, manejo e colheita se estendem por cerca de 90 hectares, rendendo para os indígenas, sobretudo, óleo e farinha. O primeiro produto é bom para hidratação da pele e cabelo, tem ação anti-inflamatória e cicatrizante e atende a demandas de hospitais e escolas.

Já do segundo, deriva o tradicional beiju, além de bolacha e mingau. Há ainda a possibilidade de confeccionar cestos e cobertura de malocas, a partir da folha do babaçu trançada.

Neste contexto, a convivência dos Paiter Suruí com a natureza é harmônica ao ponto de que araras e papagaios sintam-se à vontade para voar entre eles. Isso, por si só, reforça que não existe manejo do babaçual sem cuidado com a Amazônia.

“Essa agroindústria foi a forma do nosso entendimento do cuidado com a floresta, não pensando em desmatar, mas para o bem da comunidade, em como criar uma geração de renda para o bem da floresta”, concluiu Izanoel.

Investimento internacional

Em 2012, o governo alemão estabeleceu o Programa Global REDD Early Movers (REM) – Pioneiros em Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD), em português. A proposta é compensar financeiramente países e estados que comprovem resultados na redução de emissões por desmatamento. Hoje o REM é a única proposta do tipo a contemplar Mato Grosso, que tem reforçado o apelo aos países ricos por mais investimentos em ações sustentáveis.

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