O risco de transmissão de malária é maior em regiões da Amazônia onde metade da floresta já foi derrubada. Nessas áreas de desmate parcial, aumentam tanto os casos da doença em humanos quanto a presença de mosquitos transmissores do gênero Anopheles, em especial do subgênero Nyssorhynchus.
A conclusão faz parte de uma pesquisa divulgada recentemente na revista científica Acta Tropica, com coletas de campo realizadas em 40 pontos de Cruzeiro do Sul, no Acre, município que registra altos índices da doença juntamente com outras cidades no Vale do Rio Juruá.
“Na pesquisa detectamos que o maior risco de transmissão de malária ocorre quando há uma proporção de 50% de mata nativa próxima a locais de moradia, assentamentos ou núcleos populacionais. O risco também é alto quando a vegetação é fragmentada, permitindo maior contato de vetores que estão na floresta com humanos. Por outro lado, ele diminui se o desmatamento é completo, porque o ambiente fica inóspito para o vetor, ou quando a floresta é restaurada para níveis acima de 70%, mostrando a importância da conservação e da restauração”, explicou o biólogo Gabriel Laporta, autor do estudo, em entrevista à Agência FAPESP.
Outras situações também contribuem para o avanço da malária em países endêmicos, como o Brasil: mudanças nos tipos de mosquitos mais comuns, perda de biodiversidade, grandes obras de infraestrutura (como hidrelétricas), mineração e urbanização. Somam-se ainda os efeitos das mudanças climáticas – com aumento das temperaturas, secas e chuvas intensas –, que criam condições mais favoráveis para os mosquitos se multiplicarem. Por isso, especialistas defendem sistemas de vigilância em saúde mais fortes, atenção às populações vulneráveis e respostas rápidas diante de desastres naturais.
O tema ganha destaque às vésperas da COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA), e já incluiu a saúde como pauta de discussão.
“As questões ambientais e de saúde pública parecem distantes, mas estão muito conectadas. Uma das formas de intervenção em áreas como as que estudamos seria promover iniciativas sustentáveis que ofereçam renda para os moradores. A floresta conservada tem produtos com valor, mas eles tendem a ser menos lucrativos do que abrir terras para pastagens ou uso agrícola. O pagamento por serviços ecossistêmicos, por meio do mercado de carbono, por exemplo, pode ser uma alternativa”, destacou Laporta.
De acordo com o Ministério da Saúde, a malária é endêmica nos nove estados da Amazônia Legal, que concentra a maioria dos casos Brasil. Em 2024, foram registrados 142 mil casos no país, sendo 138 mil somente nos nove estados da região. O governo brasileiro se comprometeu a reduzir esse número para menos de 14 mil até 2030, com a meta de eliminar a doença até 2035.
A malária provoca febre, calafrios, tremores e dor de cabeça. Em casos graves, pode levar a convulsões, hemorragias e até à morte. O tratamento é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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