Por André Garcia
A Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2024, uma redução de 13% em quatro décadas. Com a devastação acelerada, o bioma também está mais seco e cada vez mais próximo do ponto de não retorno, quando a floresta não conseguirá mais se sustentar.
Os números fazem parte da Coleção 10 do MapBiomas, lançada nesta segunda-feira, 15/9, que atualiza a série histórica de mapas anuais de cobertura e uso da terra do país.
“A Amazônia brasileira está se aproximando da faixa de 20% a 25% prevista pela ciência como o possível ponto de não retorno do bioma, a partir do qual a floresta não consegue mais se sustentar”, alerta Bruno Ferreira, pesquisador do MapBiomas.
De acordo com o levantamento, a supressão na Amazônia ocorreu principalmente sobre formações florestais, que perderam quase 50 milhões de hectares no período. Grande parte dessa área deu lugar a atividades como a agropecuária e a mineração, que hoje ocupam 15,3% do bioma.
Moratória da soja
Uma boa notícia, de acordo com dados do MapBiomas, é que a soja deixou de ser um dos principais vetores de desmatamento na Amazônia depois da Moratória de 2008.
Embora a cultura tenha se expandido significativamente, ocupando cerca de 74,4% das áreas convertidas para agricultura (totalizando 5,9 milhões de hectares em 2024), a conversão direta de floresta para soja caiu 68% desde 2008.
Após a Moratória, a expansão da soja passou a ocorrer principalmente sobre áreas já abertas, como pastagens (aumento de 1.047%) e outras áreas de agricultura (crescimento de 2.708%). Isso demonstra uma mudança no padrão de crescimento da cultura na região.
Amazônia mais seca
Além da perda de florestas, a Amazônia enfrenta a redução de áreas úmidas, como rios, florestas e campos alagáveis, apicuns e mangues. Entre 1985 e 2024, essas áreas recuaram 2,6 milhões de hectares. No ano passado, as áreas úmidas ocupavam 59,6 milhões de hectares.
O levantamento aponta que oito dos dez anos mais secos foram registrados na última década. O impacto dessas mudanças se espalha por todo o país, em um efeito em cadeia, já que a Floresta Amazônica funciona como uma grande bomba d’água natural, responsável por gerar e distribuir umidade para outras regiões.
“Já podemos perceber alguns dos impactos dessa perda de cobertura florestal, como nas áreas úmidas do bioma. Os mapas de cobertura e uso da terra na Amazônia mostram que ela está mais seca”, acrescenta Ferreira.
Transformação recente
A análise das imagens de satélite mostra que a maior parte da transformação do bioma ocorreu nas últimas quatro décadas: 83% da área antropizada, ou seja, convertida para uso humano, foi registrada entre 1985 e 2024. Somando todos os usos antrópicos, houve um aumento de 471%, com a abertura de 57 milhões de hectares.
Neste cenário, Mato Grosso é o segundo estado da Amazônia com menor proporção de vegetação nativa: 62%. Rondônia lidera a lista, com apenas 60%, resultado de uma forte conversão de florestas em pastagens, que saltaram de 7% do território em 1985 para 37% em 2024. Na sequência, aparecem Tocantins (65%) e Maranhão (67%).
Segundo o MapBiomas, a destruição vem avançando principalmente sobre florestas intactas: em 2024, 88% do desmate foi em áreas de vegetação primária. No caso da vegetação secundária, aquela em processo de regeneração, a taxa foi de 12%. No ano passado, essa categoria correspondia a 6,9 milhões de hectares do bioma.
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