Por André Garcia
Desde 2019, os rios de Mato Grosso do Sul vêm registrando níveis mais baixos para o mês de setembro, revelando uma tendência de redução das cotas no período de estiagem. A situação coloca o estado em alerta, já que afeta a irrigação, a pecuária e a navegação, fundamentais para o escoamento da produção agropecuária.
Os dados são da Sala de Situação do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) e mostram que, mesmo diante de uma melhora no cenário em relação a 2024, a situação ainda exige atenção.
“Temos observado que, desde 2019, a redução das cotas tem sido frequente. Embora este ano a situação esteja menos crítica que em 2024, ainda precisamos de atenção, pois a recuperação depende de chuvas regulares e do equilíbrio do regime hidrológico”, explicou o técnico do Imasul, Leandro Neri Bortoluzzi.
A queda nos níveis está associada à redução das chuvas e à menor recarga subterrânea, processo essencial para manter os rios em equilíbrio durante a estiagem. Os pontos de Ladário e Porto Murtinho, no Rio Paraguai, são exemplos claros dessa tendência, que, nos últimos seis anos, tem afetado também afluentes e rios ligados à bacia do Paraná.
Chuvas impulsionam recuperação temporária
A melhora registrada em 2025 foi impulsionada pelo aumento das chuvas entre outubro e abril, período chuvoso do estado. Dados da Sala de Situação do Imasul mostram que, nesse ciclo, os volumes de precipitação superaram a média histórica em oito dos 11 pontos monitorados na Bacia do Paraguai.
Entre os destaques positivos, Ladário registrou 1.082,8 mm de chuva, volume 412,2 mm acima da média. Em seguida, Miranda acumulou 1.034,2 mm, superando em 236,2 mm o histórico do período, enquanto Palmeiras, na região do rio Aquidauana/Miranda, atingiu 1.091,8 mm, com um excedente de 139,1 mm.
“O aumento do volume pluviométrico entre março e abril foi determinante para que, pela primeira vez desde 2023, todos os pontos monitorados na bacia do rio Paraguai tenham se mantido fora da condição de estiagem durante o trimestre pós-chuva”, acrescentou Bortoluzzi.
Na contramão, Porto Esperança, em Corumbá, apresentou o maior déficit do ciclo, com 468,4 mm — 35,5% abaixo do esperado. Porto Murtinho e Pousada Taiamã também registraram chuvas abaixo da média, mas com variações menos expressivas. Isso indica uma melhoria momentânea das condições hidrológicas.
Chegada do período seco
Com o fim do período chuvoso, os rios começaram a apresentar sinais de recuo já em julho. A estação do rio Aquidauana, por exemplo, voltou a registrar cota de estiagem. A tendência para os próximos meses, até setembro, é de baixa pluviosidade, com possibilidade de surgimento de novos pontos em situação crítica.
Vale destacar que setembro marca o fim do período seco em Mato Grosso do Sul. Isso significa que para que o próximo ano apresente uma situação mais favorável para os rios da região, será fundamental que as chuvas se mantenham regulares na transição para a estação chuvosa.
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