Por André Garcia
O monitoramento socioambiental do rebanho se tornou uma das principais apostas de Mato Grosso para atestar seu compromisso com a conservação e acessar qualquer mercado internacional. O modelo de transparência pode virar lei no estado por meio do Passaporte Verde, programa que alia produtividade e sustentabilidade.
Em análise na Assembleia Legislativa (ALMT), o projeto que institui o Passaporte Verde deve ser aprovado ainda neste mês. O trabalho será coordenado pelo Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), que na semana passada assinou, durante o Seminário Pré-COP30 Mato Grosso, em Brasília, um acordo com o Instituto PCI (Produzir, Conservar e Incluir) para dar escala às ações.
A parceria ocorre em meio aos preparativos do Brasil para sediar, pela primeira vez, o Congresso Mundial da Carne. O evento será realizado entre 28 e 30 de outubro, em Cuiabá (MT), e representa a oportunidade para a pecuária do estado mostrar suas boas práticas a mais de 20 países.
“Mato Grosso é hoje o estado que mais cresce na adoção de práticas sustentáveis na agropecuária e o Passaporte Verde é um passo decisivo para mostrar isso ao mundo. A PCI tem total sinergia com esse propósito e, por isso, essa cooperação é muito estratégica para ampliar o impacto positivo da pecuária”, afirmou o presidente do Imac, Caio Penido.
Apesar dos avanços, o desafio ainda é grande. Segundo o MapBiomas, em 2024, Mato Grosso desmatou 92.554 hectares, figurando entre os cinco piores índices do país. E o principal vetor da destruição continua sendo a expansão de pastagens, que já substituíram 26% da vegetação original somente na Amazônia mato-grossense.
Embora parte do desmatamento seja legalizada, as perdas — mesmo autorizadas — afastam o país da meta de desmatamento zero e comprometem a imagem da cadeia no exterior. Por isso, a parceria entre os institutos inclui a recuperação de áreas degradadas e a reinserção de produtores com restrições ambientais.
Segundo o diretor executivo da PCI, Richard Smith, a entidade trabalha com metas que devem ser implementadas até 2030. Todas elas se alinham ao Passaporte Verde, que estabelece critérios como a ausência de desmatamento ilegal após 2008 e o respeito a áreas protegidas e comunidades tradicionais.
“Entre essas metas, nós temos o aumento da intensificação da pecuária, aliada à recuperação de pastagens degradadas e à inclusão socioprodutiva, ou seja, fortalecer os pequenos produtores. Essas metas estão alinhadas com o Passaporte Verde, que poderemos incentivar com a nossa capilaridade”, concluiu.
O passaporte
De acordo com o Imac, o Passaporte Verde foi desenvolvido com base no Código Florestal Brasileiro e nas diretrizes do Ministério Público Federal, com participação de produtores, frigoríficos, instituições públicas e privadas. O programa traz uma nova lógica para o setor, orientando e incluindo o produtor rural na regularização ambiental.
Entre os benefícios estão o acesso facilitado ao crédito rural, o apoio técnico para adequação às normas ambientais e a abertura de novos mercados, inclusive no segmento de carbono. O modelo ainda possibilita o uso de ferramentas digitais para acompanhar os animais desde o nascimento até o abate.
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