Por André Garcia
Mesmo liderando a produção agropecuária do país, Mato Grosso ainda depende de quase 95% das frutas, legumes e verduras importados de outras regiões. Essa lacuna abre uma oportunidade direta para pequenos e médios produtores: ocupar nichos de alto valor com sistemas agroflorestais adaptados à seca, capazes de produzir o ano todo em áreas pequenas e com menor risco climático.
Enquanto soja, milho e carne movimentam o macro, a agrofloresta aparece como alternativa rentável para abastecer mercados regionais, reduzir custos logísticos e diversificar a renda nas propriedades. O tema deve entrar na rota dos investimentos sustentáveis.
É o que se mostra viável em Botuporã, cidade baiana de cerca de 11 mil habitantes. Lá, um projeto de cooperação internacional incentiva moradores e jovens lideranças a unir produção agrícola e conservação ambiental. O município integra, desde 2021, um consórcio com comunidades da região da Alsácia do Norte, na França, voltado ao desenvolvimento sustentável.
“Brasil e França não têm os mesmos desafios, mas têm os mesmos objetivos, que é trabalhar para o desenvolvimento sustentável. O paradoxo dos países europeus é que eles não querem produzir alimentos com agrotóxicos, mas os consomem em importações. A partir dessa troca, é preciso repensar esta validação e capacitar agricultores para este modo mais saudável e sustentável”, diz o prefeito francês.
Combatendo a fome
Em entrevista ao podcast S.O.S! Terra Chamando!, o Secretário de Governança Fundiária e Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério de Desenvolvimento Agrário, Moisés Savian, explica que a agrofloresta é uma ferramenta potente contra a fome no mundo.
“Se eu, por exemplo, tenho um pasto ralinho e eu monto uma agrofloresta, eu vou trazer para a superfície o carbono que está excessivo na atmosfera (o carbono é absorvido pelas plantas). Se eu tenho uma lavoura de milho que não resiste muito tempo sem chuva – diante da crise hídrica – e junto esta lavoura à floresta, que tem sombra e raízes profundas, o milho se beneficiará da captação de água de uma castanheira, por exemplo” disse.
Como funciona
Na prática, a agrofloresta transforma áreas descampadas e técnicas de monocultivo em florestas biodiversas, com produção contínua e menos dependente de insumos químicos. A lógica é simples: combinar plantas menores com árvores maiores, que garantem sombra, água e equilíbrio ecológico, mantendo pragas sob controle de forma natural.
Assim, esses sistemas combinam lavouras com árvores profundas, ampliando a captação de água, reduzindo perdas em períodos secos e aumentando a disponibilidade de carbono na superfície. Nesse arranjo, culturas mais sensíveis à irregularidade das chuvas, como o milho, passam a se beneficiar da sombra e da umidade proporcionadas pelas árvores.
Recuperação
“Nós temos muita pastagem subutilizada. São áreas que não estão produzindo alimentos e não estão servindo para a questão ecológica também. O governo tem trazido a ideia de florestas produtivas de agroflorestas, avançar com a produção biodiversa nessas áreas que já foram desmatadas, numa ótica de restauração, mas uma restauração produtiva”, conclui.
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