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Abertura de áreas para o agro desacelera e gera oportunidade

Abertura de áreas para o agro desacelera e gera oportunidadeRecuperação de pastagem é oportunidade para o setor. Foto: Embrapa

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Por André Garcia

O Brasil chega a 2024 com 65% de seu território coberto por vegetação nativa e 32% ocupado pela agropecuária. Entre 1985 e 2024, a pastagem foi o uso da terra que mais avançou, mas o ritmo de abertura de novas áreas para pecuária desacelerou nas últimas duas décadas, o que pode indicar uma oportunidade para o setor.

Os dados fazem parte da Coleção 10 do MapBiomas, lançada nesta quarta-feira, 13/8 e mostra que no período pastagem e agricultura  cresceram 62,7 milhões de hectares (+68%) e 44 milhões de hectares (+236%), respectivamente. Se em 1985 a agropecuária predominava em 420 municípios, em 2024, já são 1.037.

“Até 1985, ao longo de quase cinco séculos com diferentes ciclos de expansão da fronteira agrícola, o Brasil converteu 60% de toda a área hoje ocupada pela agropecuária, mineração, cidades, infraestrutura e outras áreas antrópicas. Já os 40% restantes dessa conversão ocorreram em apenas quatro décadas, de 1985 a 2024”, sintetiza Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas.

Desaceleração

A partir do início dos anos 2000, a área total de pastagem no Brasil deixou de crescer e entrou em um período de estabilidade, com leve tendência de queda. Entre 1995 e 2004, foram 35,6 milhões de hectares convertidos em pastagens, enquanto entre 2005 a 2014, o ritmo caiu para 17,6 milhões de hectares, o menor nível em quatro décadas.

“Essa tendência se inverteu na última década, que foi marcada por degradação, impactos climáticos e avanço agrícola”, enfatiza Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do IPAM.

Desde 2008, a pecuária perde mais área para a agricultura do que consegue abrir, e mesmo com a breve recuperação entre 2021 e 2023, impulsionada pelo desmatamento na Amazônia, a tendência geral continua sendo de redução das pastagens, embora novas áreas ainda sejam abertas para pecuária.

“No balanço, a área de pastagem está estável. Mas isso não quer dizer que ela ainda não esteja expandindo e não tenha o processo de aumento da agricultura sobre a área de pastagem”, explicou Tasso.

Oportunidade

Com a desaceleração da abertura de novas áreas agrícolas, aumenta o custo de oportunidade de manter pastagens mal aproveitadas. Segundo o MapBiomas, a média nacional é de 1,3 cabeça de gado por hectare, mas a produção de forragem poderia sustentar uma lotação maior sem ampliar o espaço.

“A produção de forragem é comida para o boi no pasto. Quanto mais você puder produzir de comida, mais animais você põe por hectare, menos área você precisa”, acrescentou Laerte Ferreira, coordenador do mapeamento de pastagens no MapBiomas e coordenador do LAPIG na Universidade Federal de Goiás.

Esse potencial abre caminho para a intensificação sustentável, que consiste em produzir mais alimento para o rebanho por hectare, permitindo aumentar a produtividade, reduzir a pressão sobre áreas de vegetação nativa e até liberar terras para agricultura ou conservação.

Dinâmica regional

Boa parte dessa expansão se concentrou no Centro-Oeste. Em Mato Grosso, enquanto a vegetação nativa caiu de 65% para 60%, as pastagens subiram de 29% para 33%. Em Mato Grosso do Sul, a cobertura natural recuou de 54% para 48%, enquanto as pastagens avançaram de 35% para 41%. Já em Goiás, a cobertura natural caiu de 40% para 35% e as pastagens cresceram de 34% para 41%.

Crédito: MapBiomas

A dinâmica regional afeta diretamente biomas estratégicos para o País. A Amazônia perdeu 52,1 milhões de hectares de áreas naturais (-13%), sendo que três em cada cinco hectares de agricultura na região surgiram nos últimos 20 anos.

No Cerrado, a redução chegou a 40,5 milhões de hectares, com a agropecuária ocupando 47% do território. Já o Pantanal manteve mais de 80% de sua cobertura natural, mas perdeu 1,7 milhão de hectares, resultado da conversão de áreas nativas e corpos d’água para uso antrópico, onde a agropecuária responde por 15% da ocupação.

 

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