HomeEcologiaProdutividade

Brasil ainda não se recuperou de crise hídrica, alerta MapBiomas

Brasil ainda não se recuperou de crise hídrica, alerta MapBiomasCrise hídrica impacta a agricultura. Foto: Agência Brasil

Lei europeia protege a Amazônia mas condena Cerrado a ‘zona de sacrifício’
Pesquisa aponta para crise hídrica no Brasil e agro é setor mais impactado
Mineração usa 578 bilhões de litros de água e pode ameaçar agro

No Dia Mundial da Água, celebrado nesta terça-feira, 22/03, a plataforma Mapbiomas Água revelou que a superfície de água em território nacional permaneceu estacionária em 2021 — cerca de 16,5 milhões de hectares.

Os dados, apresentados no Webinar “Explorando as conexões das águas superficiais e subterrâneas”, indicam que a crise hídrica que assolou o Brasil nos anos anteriores ainda não foi superada. “A série histórica entre 1985 e 2020 havia mostrado um recuo de 15,7% na superfície coberta com água [do País]. O ano passado não trouxe indícios de alívio nessa tendência”, aponta o Mapbiomas.

“Além do fator climático, que tem um peso mais importante a cada ano, por conta da alteração do regime de chuvas e da duração dos períodos de seca, as áreas de água no Brasil são afetadas por mudanças no uso e cobertura da terra, construção de barragens e de hidrelétricas e pela poluição”, explica Carlos Souza, coordenador do GT de Água do MapBiomas.

O cenário é alarmante para agricultores brasileiros, uma vez que o setor depende fortemente de corpos de água naturais para uma boa produtividade. Especialistas de gestão hídrica defendem que o desenvolvimento econômico do agronegócio e a economia e preservação da água não são opostos; caminham de mãos dadas.

Décio Siebert, consultor ambiental e presidente do Instituto Pantanal Amazônia de Conservação (Ipac), afirmou em entrevista ao Gigante 163 que com vontade política e ação efetiva, é possível contornar essa crise hídrica. “Tem o local adequado para produzir e outro a ser preservado. É possível aumentar a produtividade sem diminuir a vazão dos rios”, diz Siebert.

“A expansão agrícola (liderada pela indústria da soja) e as mudanças climáticas vêm ao custo da disponibilidade de água potável. E a perda de água superficial é refletida na perda de água subterrânea. Então como podemos tornar visível o custo socioeconômico e ambiental dessa água invisível?” questionou Maria Fleury, pesquisadora do curso de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Princeton, no webinar especial ao Dia Mundial da Água.

Conforme aponta o coordenador da MapBiomas Água, ao mesmo tempo que a superfície de água se retrai, sugerindo menor disponibilidade desse recurso, não há indicativos de que o seu uso tenha diminuído.

“Pelo contrário: o uso excessivo dos recursos hídricos, incluindo águas subterrâneas, para a produção de bens, alimentos e serviços é um dos fatores que alteraram a qualidade e disponibilidade da água em todos os biomas brasileiros”, completou Souza.

Sobre o MapBiomas
Iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org

LEIA MAIS:

Você sabe o que são rios voadores e o que eles têm a ver com a agricultura?

A solução para as crises hídricas está bem debaixo dos nossos pés?

‘É possível aumentar a produtividade sem reduzir a vazão dos rios’, diz Ipac

Mineração em Mato Grosso pode gerar disputa hídrica com agronegócio

MT firma acordo com MapBiomas para monitorar crimes ambientais