Por André Garcia
A Amazônia está enfrentando um rápido aumento de extremos climáticos, especialmente na região centro-norte, antes considerada menos vulnerável. Segundo estudo liderado pela Universidade de Lancaster, do Reino Unido, parte da bacia amazônica já registra crescimento das temperaturas de pelo menos 0,77 °C por década, acumulando mais de 3,3 °C desde 1981.
O levantamento, realizado por uma equipe internacional de mais de 50 cientistas, analisou dados de 1981 a 2023 em alta resolução, combinando imagens de satélite e registros de estações meteorológicas. Pela primeira vez, o estudo mapeou as estações secas em células de 11 quilômetros em toda a Amazônia, o que permitiu identificar com precisão a evolução do estresse hídrico e das temperaturas extremas.
A análise mostra que, embora a Amazônia Sul concentre os efeitos do desmatamento e das mudanças no uso da terra, é o centro-norte do bioma que apresenta a aceleração mais forte dos extremos climáticos.
“As taxas de mudança nos extremos são muito mais altas do que as do clima médio, e as regiões mais afetadas também diferem. Isso será crucial para planejar estratégias de adaptação”, explicou a pesquisadora Nathália Carvalho, do Lancaster Environment Centre.
Os impactos já são sentidos por comunidades tradicionais e populações urbanas. As secas consecutivas de 2023 e 2024 trouxeram escassez de pesca, remédios e até de água potável em áreas preservadas. Eventos extremos também resultaram na primeira morte em massa de mamíferos registrada na Amazônia, na redução de populações de aves, em incêndios florestais e na poluição do ar em cidades como Manaus.
Para a pesquisadora da Embrapa, Joice Ferreira, os efeitos sociais são igualmente graves.
“Isso remove a rede de segurança que as florestas proporcionam, ameaçando a segurança alimentar e enfraquecendo seu papel em uma socioeconomia em crescimento. O mais preocupante é que pode prejudicar políticas públicas de restauração que estão em construção”, destacou.
O relatório reforça que os aumentos registrados no centro-norte da Amazônia não podem ser explicados apenas por mudanças locais, mas evidenciam a influência das emissões globais de gases de efeito estufa.
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