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Banido em vários países, agrotóxico mata milhões de abelhas no Brasil

Banido em vários países, agrotóxico mata milhões de abelhas no BrasilFinopril é extremamente nocivo para abelhas. Foto: PxHere

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Agrotóxicos sob suspeita por morte de abelhas no Brasil

Os recentes surtos que têm afetado as abelhas em várias regiões do Brasil, a exemplo de Mato Grosso, têm algo em comum: o uso do fipronil. Sintetizado nos anos 1980 e cuja patente já expirou, pode ser produzido por diversas empresas. No entanto, seu uso indiscriminado é relatado por acadêmicos e técnicos agrícolas como uma das principais causas de morte em massa de abelhas. As informações são da Folha de S. Paulo. 

Os agrotóxicos, como os inseticidas à base de nicotina, herbicidas e fungicidas, afetam as abelhas de forma lenta, minando gradualmente suas funções físicas e enfraquecendo as colmeias ao longo do tempo.

O fipronil, porém, é diferente. Ele atua diretamente no sistema nervoso central dos insetos, causando superexcitação nos músculos e nervos. A substância é implacável, levando à morte rápida das abelhas, como aponta Ricardo Orsi, professor de veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“Inseticida sistêmico de ação prolongada e agressiva, hoje ele é usado em diferentes culturas, o que explica a ocorrência de contaminações de abelhas em vários pontos do Brasil”, disse.

Estudos realizados no Mato Grosso do Sul identificaram associação crescente entre mortes em massa a substância. Em 2017, o fipronil estava em 30,5% das amostras. Em 2021, em 66,6%. No ano passado, foi detectado em 85,7% nas amostras.

“Não tem lugar mais arriscado para uma abelha hoje do que do lado de uma fazenda, pois você nunca sabe que agrotóxicos vão usar, e como vão usar”, revelou o apicultor José Arnildo Marquezin.

De acordo com técnicos, a pulverização por avião ou do trator, com risco ao trabalhador, é o principal problema, em especial quando feita na floração. A abelha infectada leva o veneno para colmeia e contamina o enxame.

“No caso mais recente aqui no Mato Grosso, não consideraram a temperatura e o vento recomendados para a aplicação e, naquele dia, ainda ocorreu inversão térmica, potencializando o efeito nocivo por um raio de 26 km (quilômetros)”, afirmou a médica veterinária Erika do Nascimento, fiscal Instituto de Defesa Agropecuária no Estado (Indea).

A fiscalização percorreu 22 propriedades e localizou a substância numa fazenda de algodão. O produtor foi multado em R$ 225 mil.

Legislação

Devido ao aumento na frequência das mortes de abelhas, apicultores estão se mobilizando para restringir o uso do fipronil. Por exemplo, Goiás aprovou uma lei em abril que restringe o uso dessa substância. A Assembleia de Minas Gerais também está considerando uma proposta semelhante. Essas medidas visam a proteção das populações de abelhas e a preservação do ecossistema.

O setor, contudo, pretende ampliar o debate nacional para restringir ou mesmo proibir o fipronil. A comissão que trata de mortandade de abelhas dentro Câmara Setorial do Mel tem feito esforços em Brasília.

“Como o fipronil é uma molécula tóxica precisa sofrer avaliações. Ocorre que esse processo foi instalado em 2012 e já dura mais de dez anos sem uma conclusão. Pelo que identificamos, os inseticidas a base de nicotina podem ser revistos antes do fipronil, que já é comprovadamente mais tóxico”, explicou Rodrigo Zaluski, integrante do grupo e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

União Europeia, Colômbia e Costa Rica proíbem o uso do fipronil.