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Brasil tem “década perdida” em emissões de carbono

Brasil tem “década perdida” em emissões de carbonoDesmatamento acelerou emissões de gases de efeito estufa. Foto: Pexels

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O Brasil perdeu uma década na acirrada corrida contra as mudanças climáticas. Entre 2010 e 2021, as emissões brutas de gases de efeito estufa saltaram de 1,7 bilhão de toneladas para 2,4 bilhões, o que representa um aumento de 40,7%. Em 2021, Pará e  Mato Grosso encabeçaram a lista respondendo, respectivamente, por 18,5% e 11,1% do volume de gases desprendidos na atmosfera. As informações são da Folha de S. Paulo com base nos dados são do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg) do Observatório do Clima.

O principal responsável pelos números é o desmatamento, que, em 2021, respondia por cerca de 49% das emissões nacionais. Naquele ano, as emissões brutas por uso da terra e florestas em todos os biomas atingiram 1,19 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente. Isso representou um aumento de 83% em relação a 2010. No mesmo período, segundo dados do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a taxa de destruição anual da Amazônia cresceu 86%, indo de 7.000 km² para mais de 13 mil km².

O ano de 2010 é especialmente importante porque marca a regulamentação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), que foi criada para garantir a adoção de medidas para prever, evitar ou minimizar as causas das mudanças climáticas. Esta lei previa que o desmatamento no bioma deveria ter sido de no máximo de 3.925 km² em 2020 (o índice real foi de 10,8 mil km²). No ano de 2021 deveria ter sido o primeiro ano de implementação da meta brasileira para cumprir o Acordo de Paris (a chamada Contribuição Nacionalmente Determinada, conhecida pela sigla em inglês NDC).

De acordo com o relatório do Seeg, com a PNMC, o que se esperava para 2021 é que as emissões nacionais tivessem entrado numa trajetória de redução, que o país adotasse novas metas, mais ambiciosas, e que a suposta redução nas taxas de desmate da Amazônia deixasse o Brasil numa posição vantajosa. Assim, cumpriria a meta original da NDC, de reduzir as emissões em toda a economia em 37% até 2025 em relação aos níveis de 2005.

“O que se verificou, porém, foi algo muito diferente”, destacou o documento.

Quanto à meta original da NDC brasileira, entre 2005 e 2021, a redução nas emissões brutas foi de apenas 8,2% e nas líquidas, de 20%, segundo os dados do Seeg. Durante o governo Bolsonaro, a NDC foi atualizada duas vezes, ambas recorrendo a mudanças do referencial de emissões no ano-base de 2005. Na prática, a manobra, que foi chamada de “pedalada climática”, faria o Brasil chegar a 2030 com uma meta de emissão maior do que o previsto pela primeira NDC.

As emissões de todos os outros setores também cresceram entre 2010 e 2021. Em resíduos, principalmente lixo e esgoto, a alta foi de 31%, em processos industriais e uso de produtos, houve aumento de 13%, em energia, o crescimento foi de 17%, e, em agropecuária, de 12%. No setor de energia, a alta pode ser explicada pelo aumento no número de usinas termelétricas fósseis e do uso do diesel nos transportes. Na agropecuária, cresceram o rebanho bovino e consumo de fertilizantes.

O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa, respondendo por 3% do total mundial, de acordo com informações da ONG WRI (World Resources Institute), que vão até 2019. O país fica atrás de China (25,2%), Estados Unidos (12%), Índia (7%), União Europeia (6,6%), Rússia (4,1%) e Indonésia (4%).