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Com desmatamento recorde, Cerrado preocupa mais que Amazônia

Com desmatamento recorde, Cerrado preocupa mais que AmazôniaSomente em abril o aumento do desmatamento no bioma foi de 31%. Foto: Semad

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Por André Garcia 

Nos primeiros quatro meses de 2023, o Cerrado perdeu uma área de 2.133 km2. Os dados são do Sistema DETER, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e mostram que o valor é 17% maior que o registrado no mesmo período do ano passado e 48% maior que a média histórica. Já na Amazônia, os alertas de desmatamento acumulados atingiram 1.132 km2, uma área 38% menor em comparação a mesma série de 2022.

No Cerrado, somente em abril, o aumento foi de 31% em relação a abril de 2022, passando de 541 para 709 km2, área cerca de duas vezes maior que na Amazônia Legal. Além disso, os valores podem estar subestimados por conta da cobertura de nuvens que permaneceu bem acima da média durante os quatro últimos meses.

O números  mostram que cerca de 80% dos alertas de desmatamento ocorreram em áreas do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), região que é considerada a principal fronteira de expansão agrícola no Brasil e uma das grandes frentes de destruição de ecossistemas do mundo.

Nos primeiros nove meses do período completo de medição do DETER, iniciado em 1o de agosto, houve alertas de desmatamento para 3.473 km2 no bioma, um valor 10% maior que o registrado no período anterior (entre agosto de 2021 e abril de 2022) e 15% maior que a média histórica.

Aumento crítico

Quando se estima o desmatamento em relação a área remanescente de vegetação primária, o Cerrado tem uma taxa por volta de 3 vezes maior que a Amazônia. Além disso, já perdeu quase metade da sua cobertura e tem apenas 3% de sua área em proteção integral. Porcentagem baixa para um bioma que tem a maior fronteira agrícola do mundo e que já perdeu quase metade de sua área original.

Nos dois biomas, a explosão do desmatamento está ligada à ações da gestão anterior, que, dentre outras, enfraqueceu a proteção ambiental no Brasil; reduziu os direitos dos povos indígenas em relação à demarcação de suas terras e adotou discurso permissível a ilegalidades sobre o uso da terra.

É preciso lembrar que, apesar de toda atenção para a Amazônia, no Cerrado nascem as principais bacias hidrográficas do país. O que quer dizer que o desmatamento ameaça a segurança hídrica das grandes cidades e principalmente o setor agrícola que necessita de um regime de chuvas seguro para manter sua produtividade.

Queda na Amazônia

Em abril, a queda na área detectada de desmatamento na Amazônia foi de 64% em relação a abril de 2022, passando de 898 para 321 km2. Essa redução detectada a partir de janeiro pode ser sinal de uma reversão na tendência da destruição do bioma, porém ainda é cedo para saber se tal mudança vai se consolidar.

A situação fica mais preocupante, entretanto, se considerado o período completo de medição do DETER, iniciado em 1o de agosto. Nesses nove meses (entre agosto de 2022 e abril de 2023), a Amazônia já perdeu 5.936 km2 . É o maior valor da série histórica para esse período, superando em 20% o que foi registrado entre agosto de 2021 e abril de 2022.

Para garantir que as taxas de destruição continuem a cair, é preciso investir na fiscalização.

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