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COP26: Desmatamento zero é chave para Brasil atingir metas, dizem especialistas

COP26: Desmatamento zero é chave para Brasil atingir metas, dizem especialistas

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Começou na segunda-feira, 1/11, em Glasglow, na Escócia, os eventos promovidos pelo Brazil Climate Action Hub. Paralelamente à COP26, especialistas debatem sobre soluções e desafios da ação climática, mas sob a perspectiva brasileira.

O primeiro painel, “Desmatamento na Amazônia e metas de Paris: qual é o tamanho do buraco?”, foi conduzido por Erika Berenguer , da Universidade de Oxford, com apresentações de Tasso Azevedo, do Observatório do Clima/MapBiomas, Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),  e de Raoni Rajão, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Rajão falou de um estudo da UFMG, em parceria com outras universidades, sobre o impacto do desmatamento na mudanças climáticas no país, nos últimos 20 anos. O pesquisador detalhou como diversos tipos de governança, fraca, forte ou moderada, são determinantes para avanços ou retrocessos nas medidas para preservação do meio ambiente.

Luciana Gatti mostrou dados de sua relevante pesquisa, publicada pela revista “Nature”, sobre como as áreas desmatadas da Amazônia já comprometem a absorção de gás carbônico pela floresta.

Segundo o estudo de Gatti, a floresta, antes sumidouro de carbono, agora já emite mais CO2 do que consegue absorver, o que interfere no aumento da mortalidade das espécies, no balanço hídrico, no balanço da temperatura, enfim, nas mudanças climáticas como um todo.

“Esse processo interfere no mundo inteiro. A natureza não reconhece nossas diferenças políticas, nossas diferenças geográficas, tudo está interligado. Só muita ciência vai conseguir fazer a gente lidar com os desafios das mudanças climáticas”, afirma.

Segundo a pesquisadora, na área sudeste da Amazônia, que compreende o sul do Pará e o norte de Mato Grosso, a temperatura aumentou 2,5 graus. A região também é responsável por 1/3 das emissões na floresta.

Gati defende desmatamento zero para que não se chegue ao ponto de não retorno em relação à devastação da Amazônia. “Moratória do desmatamento pra já”, diz ela, revelando que em locais onde as árvores não foram queimadas, elas estão morrendo por conta da condição climática. “Só espécies mais resistentes conseguem sobreviver”.

“Temos que preservar a Amazônia para o bem da Brasil, do planeta. A Amazônia vale mais em pé, inclusive economicamente”.

Emissões

Tasso Azevedo começou sua explanação com a divulgação de uma ferramenta criada no Mapbiomas para contabilizar o número de árvores que são derrubadas no Brasil. Segundo ele, até o final da COP26, serão 500 milhões de árvores a menos no país. “Parece impensável. Dá 23 árvores por segundo”, diz.

A despeito disso, porém, o especialista disse que não há no mundo um país com capacidade de zerar a emissão de carbono de forma mais rápida que o Brasil. No ano passado, em plena pandemia e na contramão do mundo, o país contabilizou  2,16 bilhões de toneladas de emissões.

Na opinião dele, se o Brasil fizesse um corte radical no desmatamento, que acontece essencialmente na Amazônia e no Cerrado, já tiraria um bilhão de toneladas da “mesa”.

“Nessas florestas que estão regenerando e as que são protegidas a gente tem 600 milhões de toneladas absorvendo CO2. Se eu zerar o desmatamento e pegar os 600 milhões de toneladas dessas florestas, já daria pra compensar as emissões de agricultura”.

Como não tem como zerar as emissões, da energia, indústria e transporte, Tasso sugere um melhor o uso da terra.  “Se a gente recuperar todas as pastagens, serão 400 milhões de toneladas de CO2”, contabiliza.

Para isso, de acordo com ele, é preciso que o desmatamento seja uma obsessão nacional. “Só tem carbono zero, se resolver desmatamento e melhor uso da terra”.