Por André Garcia
Os alertas de desmatamento na Amazônia cresceram 27% no primeiro semestre de 2025, segundo dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram 2.090,3 km² de vegetação sob alerta, contra 1.644,9 km² no mesmo período do ano passado.
Apesar da estabilidade nos índices de junho, 457 km², a menor taxa para o mês desde 2016, o acumulado do ano indica que a destruição voltou a acelerar no bioma.
Mato Grosso foi o estado com maior área sob alerta de desmatamento na Amazônia neste ano. Entre janeiro e junho, foram 1.551,8 km², mais do que o triplo do registrado no mesmo período de 2024, quando o estado teve 454,5 km² devastados.
O segundo e o terceiro estados da Amazônia Legal que mais desmataram até agora em 2025 são o Pará, com 833,5 km², e o Amazonas, com 774,4 km.
No recorte municipal, Mato Grosso domina o ranking da devastação na Amazônia, com seis dos dez municípios mais desmatados no período. Porto dos Gaúchos lidera com 128,9 km², seguido por Feliz Natal, União do Sul, Marcelândia, Colniza e outros municípios mato-grossenses que concentram a pressão sobre a floresta.

Crédito: Inpe
Cerrado tem redução, mas ainda preocupa
No Cerrado, houve uma redução de 11% nos alertas de desmate, passando de 3.724,3 km² em 2024 para 3.358,3 km² neste ano. Em junho, a queda foi ainda mais acentuada: 23% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Mesmo com o recuo, os dados mostram que o ritmo da devastação segue elevado no bioma.
Matopiba lidera perda de vegetação no Cerrado
Os estados do Matopiba, fronteira agrícola que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentram os maiores índices de desmate no Cerrado. Piauí teve 708,6 km² sob alerta, Tocantins registrou 747,1 km² e o Maranhão, 704,5 km² no primeiro semestre.
Na região, os dados por município reforçam a concentração do desmatamento no Matopiba, com destaque para o Piauí. O estado abriga quatro dos dez municípios com maior área de vegetação nativa destruída no semestre, incluindo o líder do ranking, Guadalupe, com 170,8 km² sob alerta.

Crédito Inpe
Expansão agrícola não justifica devastação
Como já mostramos, apesar de ocorrer, em grande parte, em regiões de forte expansão agrícola, o desmatamento não representa avanço produtivo. Pelo contrário: ele compromete a estabilidade climática, afeta o regime de chuvas e ameaça a reputação do agronegócio brasileiro no mercado internacional.
A destruição de vegetação nativa, especialmente na Amazônia e no Cerrado, aumenta o risco de sanções comerciais e dificulta o acesso a mercados que exigem comprovações de origem sustentável. A manutenção de patamares elevados de devastação também pressiona políticas ambientais e pode gerar barreiras ao crédito rural.
Alertas
Os alertas de desmatamento são feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal.
Contudo, a medição oficial do desmatamento, feita pelo sistema Prodes, costuma superar os alertas sinalizados pelo Deter.
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