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Energia solar pode ajudar agro a conter prejuízos causados por extremos climáticos

Energia solar pode ajudar agro a conter prejuízos causados por extremos climáticosEnergia solar tem processo de instalação simplificado. Foto: CNA

Limpa e rentável, energia solar tende a crescer no campo
Energia solar já é a segunda maior fonte energética do país
Energia Solar se torna a terceira fonte de energia em potência do Brasil

Por André Garcia 

Sem política concreta para enfrentar os efeitos de uma crise hídrica sobre seu sistema elétrico, o Brasil pode registrar graves prejuízos com as alterações climáticas, mais evidentes a cada dia. Especialistas apontam que, para resolver o problema, o País deve apostar na diversificação da matriz, com o mix hidro-solar-eólica.

Neste cenário a geração fotovoltaica se destaca, especialmente pela instalação facilitada das placas e pelo potencial de retorno. A estratégia pode ainda ser uma aliada do agronegócio, que, também em decorrência dos extremos climáticos, já estima perdas de 26% na produção de soja e de 32% na produtividade de pastagens até a metade do século.

Em Mato Grosso, onde grande parte dos investimentos em energia solar diz respeito à zona rural, a lição de casa começou a ser feita. É o que explica ao Gigante 163 o presidente do Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Gás de Mato Grosso (Sindernergia-MT), Tiago Viana.

“O volume de investimentos voltados ao agro é de cerca de 80% na minha empresa. Tem crescido a busca, seja pela instalação nas propriedades, ou pelo consumo remoto, vindo de parques para atender a demanda deste setor. Hoje Mato Grosso já exporta para outros estados, como São Paulo”, conta Viana, que é proprietário da Oeste Solar Energia.

Segundo ele, que também é coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o tempo de instalação é determinante na escolha, variando entre seis meses no caso de uma usina solar e 10 anos no caso da hidrelétrica. Isso, comparando mesma capacidade de geração.

“A solar não é a mais barata [para instalar], mas é mais rápida. Em termos de retorno a longo prazo, ela empata com a hídrica, que tem um custo de manutenção e operação mais baixo. A diferença é que a hídrica tem uma demora maior, além de demandar gastos mais altos com o projeto inicial” explica.

Isso porque, a segunda opção demanda processos como a obtenção de licenças ambientais e a realização de audiências públicas para discutir o impacto do projeto com a sociedade. Além de dispensarem esses trâmites, as placas fotovoltaicas podem zerar os custos com energia em menos de nove anos e oferecer oportunidades no mercado livre.

“Como consumidor você pode ter benefício na conta de luz ao gerar a própria energia, ou se tornar investidor pulverizado. Nosso crowdfunding tem cota mínima de R$ 5 mil e tem um rendimento de IPCA+8,5% ao ano, além de ser um gerador de energia limpa e renovável”, pontua Vianna.

Competitividade nacional

A necessidade de diversificação da matriz nacional é reforçada pelos impactos dos ciclos de excessos ou escassez de chuvas, que devem se intensificar nos próximos anos. O tema, já abordado por nós, é destaque de relatório da Coalizão Energia Limpa, que mostra que, cerca de 60% da matriz energética brasileira tem base hídrica.

Lançado no último mês, o estudo aponta ainda que, com planejamento, o Brasil pode ser pioneiro na transição energética. Isto permitiria a redução dos custos da energia elétrica e maior competitividade dos produtos no mercado global, o que, por sua vez, impulsionaria a economia e reduziria desigualdades.

Neste contexto, Tiago destaca a vantagem competitiva do país.

“A sazonalidade é um fator muito importante. Quando se tem energia de diversas origens, se faltar uma fonte, ela é substituída por outra. A vantagem e a robustez do sistema interligado nacional estão justamente nesta multiplicidade, já que o Brasil tem todas as fontes em abundância”, afirma.

Limitações do modelo hídrico

Conforme o estudo da Coalizão Energia Limpa, o atual planejamento do País conta com um volume de chuvas que pode não ocorrer, o que levará à adoção de medidas emergenciais caras e poluentes, a exemplo do que aconteceu na crise hídrica de 2021, quando grandes investimentos em termelétricas foram feitos.

Segundo relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), as variações climáticas causarão queda acentuada no volume de chuvas em quatro das cinco regiões brasileiras nas próximas décadas, limitando o abastecimento e fornecimento das usinas.

É preciso considerar ainda que, embora forneçam energia limpa, as hidrelétricas podem causar impacto socioambiental com sua construção. Na extensão do Rio Cuiabá, por exemplo, elas ameaçam o fluxo das águas e ecossistemas da Região Hidrográfica do Paraguai, o que pode resultar na descaracterização do Pantanal.

Estas análises já possibilitam planejar adaptações à matriz. Para isso, além do combo “hidro-solar-eólico”, a Coalizão recomenda investimentos em tecnologias de armazenamento, em baterias com geração fotovoltaica, na produção de hidrogênio verde e em usinas hidrelétricas reversíveis.

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