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Fogo causou quase um quarto do desmatamento na Amazônia

Fogo causou quase um quarto do desmatamento na AmazôniaDados mostram que o fogo não está mais restrito a áreas já abertas. Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

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Por André Garcia

O fogo tem avançado sobre áreas de floresta nativa e mudado o perfil do desmatamento na Amazônia. Entre agosto de 2024 e maio de 2025, 23,7% dos focos de calor no bioma atingiram vegetação nativa — quase o dobro do registrado no ano anterior. Dados recentes também mostram que o desmatamento causado por incêndios superou, pela primeira vez, o corte direto da vegetação.

Segundo relatório divulgado na sexta-feira, 6/6, só em maio de 2025, a Amazônia perdeu 960 km² de vegetação – 92% a mais do que em maio de 2024. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) aponta mais da metade dessa área desmatada já tinha sido atingida por fogo. Pela primeira vez, o desmatamento causado por incêndios superou os alertas de corte direto da vegetação.

“O impacto dos incêndios florestais ao longo da história foi relativamente baixo sobre a taxa de desmatamento. Mas, agora, com o agravamento das mudanças climáticas, com a maior fragilidade da cobertura florestal, estamos começando a assistir uma mudança de cenário que comprova os alertas que vinham sendo feitos”, disse o secretário executivo do MMA, João Paulo Capobianco.

Por outro lado, o Pantanal apresentou um exemplo positivo no controle do fogo. Nos meses de fevereiro, março e abril de 2025, a área queimada no bioma ficou abaixo de 10 km² — uma queda de 99% em comparação com o mesmo período de 2024. A redução foi resultado de ações coordenadas de prevenção, com foco em alertas, fiscalização e orientações aos produtores e gestores locais.

Fogo se espalha por diferentes áreas e avança sobre vegetação nativa

Entre agosto de 2024 e maio de 2025, o fogo destruiu 47,9 km² de floresta primária na Amazônia, segundo levantamento feito com dados do LASA e do TerraClass 2022. Outras áreas também foram afetadas, como 19,1 km² de pastagens herbáceas, 12,1 km² de vegetação não florestal, 7,9 km² de vegetação secundária e até zonas agrícolas. Isso mostra que o fogo está se espalhando por vários tipos de vegetação, atingindo tanto o ambiente natural quanto regiões produtivas.

Crédito: MMA

O fogo não está mais restrito a áreas já abertas, como pastagens e lavouras. Ele tem avançado sobre regiões com floresta nativa, que antes eram menos afetadas. Entre agosto de 2024 e maio de 2025, 23,7% dos focos de calor na Amazônia ocorreram em vegetação nativa, quase o dobro do registrado no mesmo período do ano anterior. Isso mostra que o fogo está saindo do controle em algumas regiões e atingindo até mesmo partes da floresta que costumavam ser mais protegidas por sua umidade.

Para os técnicos do INPE, o calor intenso, a seca prolongada e a degradação prévia estão deixando a floresta mais frágil. O fogo, que antes era visto como um efeito isolado, agora aparece como parte do processo de desmatamento e já está sendo registrado pelos sistemas de monitoramento oficial.

Prevenção e combate aos incêndios florestais

Ao todo, mais de 12 mil notificações foram emitidas entre agosto de 2024 e maio de 2025 para prevenir incêndios florestais. Só na Amazônia foram 9.009. No Pantanal, onde os resultados foram mais visíveis, foram 3.297. Além disso, foi criada a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, que define regras para o uso controlado e promove a atuação conjunta entre União, estados, municípios, setor privado e comunidades.

“Essa política representa um avanço significativo, pois além de organizar as ações de prevenção e controle de incêndios, estabelece também a corresponsabilidade entre a União, os estados, os municípios, o setor privado e toda a sociedade”, avaliou Capobianco.

Outro instrumento que deve fortalecer as respostas aos incêndios florestais é a Lei 15.143/2025, sancionada no dia 5/6. A norma amplia a capacidade de enfrentamento aos incêndios e facilita a reconstrução de infraestrutura destruída por eventos climáticos extremos em estados e municípios.

Fogo já causa quase metade da perda de floresta no mundo

O que acontece no Brasil não é um caso isolado. Segundo dados do INPE e do World Resources Institute (WRI), quase metade da perda de florestas primárias no mundo em 2024 foi causada por incêndios. Em países como o Canadá, por exemplo, o fogo já superou outras causas, como corte seletivo e expansão agrícola.

 

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