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Matopiba não aprende lição de 2024 e queimadas disparam

Matopiba não aprende lição de 2024 e queimadas disparamO crescimento foi mais acentuado entre abril e junho. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Por André Garcia

Mesmo após os prejuízos causados pelas queimadas no ano passado, alguns agricultores parecem não ter aprendido a lição: o fogo voltou a crescer em parte do Matopiba neste primeiro semestre. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram aumento de 10% no número de focos de calor no Piauí e de 9% na Bahia, na comparação com o mesmo período de 2024.

O Matopiba, fronteira agrícola que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentra parte significativa da produção de grãos do País. Mas também vem sendo palco recorrente de queimadas, muitas vezes associadas à renovação de pastagem ou limpeza de áreas. Bem diferente do Centro-Oeste, coração do agronegócio do Brasil, onde  a redução de queimadas foi de 67,5% nas ocorrências.

O crescimento no Matopiba foi mais acentuado entre abril e junho, quando historicamente se intensificam as práticas de queima no campo. No Piauí, índice saltou de 166 para 358 no período. Na Bahia, abril teve quase o dobro de focos em relação ao ano passado (331) e junho terminou com 518 ocorrências, o maior índice do semestre.

O cenário nacional, por outro lado, indica uma tendência de queda: o total de focos de calor caiu 46,4% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024. Foram 19.277 ocorrências em todo o país, o menor número desde 2018. Mesmo Maranhão e Tocantins registraram queda neste ano, de 31% e 27%, respectivamente.

Prejuízo

Como já mostramos, a situação compromete a qualidade do solo ao destruir a matéria orgânica, reduzir a umidade e matar microrganismos essenciais para a fertilidade. Isso afeta diretamente o rendimento das lavouras e das pastagens, aumenta a compactação e favorece processos de erosão, tornando a terra menos produtiva.

Exemplo disso são os danos bilionários provocados pelo fogo em 2024. Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), só entre junho e agosto do ano passado, o setor agropecuário perdeu R$ 14,7 bilhões em decorrência das queimadas. No mesmo período, cerca de 8 milhões de hectares já haviam sido consumidos.

E os três meses seguintes foram ainda piores: estima-se que mais 18 milhões de hectares foram destruídos, elevando significativamente os prejuízos, cujos dados ainda não foram consolidados. Além disso, houve impactos à saúde pública, com aumento de doenças respiratórias e sobrecarga nas unidades de atendimento.

Cenário Nacional

Segundo o MapBiomas, a redução de focos no Brasil neste ano foi puxada por biomas como o Pantanal, que registrou queda de 97,6% nos focos, e a Amazônia, com retração de 61,7%. No Cerrado, onde está a maior parte do Matopiba, os focos também diminuíram: foram 8.854, contra 13.229 no ano anterior, uma queda de 33%.

Esse recuo evidencia ainda mais o contraste registrado no Piauí e na Bahia, acendendo um alerta para os produtores locais sobre práticas que trazem muito mais prejuízo do que lucro, especialmente no Cerrado, bioma que cobre a maior parte do Matopiba e está diretamente ligado à produção agropecuária.

Em março deste ano, 52% dos 37,8 mil hectares queimados no bioma eram usados para lavouras ou pastagens, segundo levantamento do MapBiomas. As lavouras de soja concentraram 19,3% da área afetada, seguidas por pastagens (13,6%) e plantações de cana-de-açúcar (8,3%).

O avanço do fogo sobre áreas produtivas mostra que insistir em práticas ultrapassadas pode comprometer não apenas o meio ambiente, mas também a rentabilidade das propriedades. Em um cenário de custos altos e exigências crescentes por produtividade e sustentabilidade, proteger o solo é proteger o próprio negócio.

 

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