André Garcia
A pecuária bovina responde pelo maior potencial de fredução de gases de efeito estufa (GEE) entre mais de 20 cadeias do agronegócio analisadas pela Conservation International. Só no Brasil, a adoção de práticas sustentáveis à atividade poderia evitar a emissão de até 399 milhões de toneladas de CO₂ por ano — sete vezes mais que o potencial da soja.
Os dados fazem parte de um painel interativo divulgado pela organização e mostram que a soja tem um potencial técnico de 59 milhões de toneladas de CO₂ por ano. A vantagem estratégica da pecuária se mantém mesmo na comparação com outras commodities importantes, como arroz, milho e cana-de-açúcar.
No caso da oleaginosa, a área ocupada pelas atividades ajuda a explicar a diferença. No Brasil, a pecuária abrange cerca de 138 milhões de hectares, enquanto a soja cobre 37 milhões. Por isso, a maior parte das soluções naturais aplicáveis ao gado está relacionada à intensificação e à eficiência no pasto, o que evita a abertura de novas áreas.
Enquanto a recuperação de pastagens, o plantio de árvores e o aumento do carbono no solo podem reduzir até 1,6 bilhão de toneladas de CO₂ por ano na pecuária, no caso da soja o potencial de mitigação é de 186 milhões, com foco na melhoria do solo e redução do uso de nitrogênio.
Potencial acessível já é realidade em parte do país
A adoção dessas práticas também pode trazer benefícios econômicos aos pecuaristas brasileiros. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que, ao reduzir as emissões, o setor pode evitar até US$ 42,6 bilhões em custos relacionados às mudanças climáticas.
Cerca de um terço do potencial técnico da pecuária no Brasil já é acessível hoje via insetting — medidas de sustentabilidade dentro das próprias cadeias produtivas. Isso representa 450 milhões de toneladas de CO₂ ao ano. Mas, apesar do alto potencial, cerca de 90% dessa mitigação acessível no Brasil está voltada ao mercado interno.
Ranking global
No ranking global de potencial técnico para reduzir emissões na agropecuária, o Brasil aparece em primeiro lugar, com 542 milhões de toneladas de CO₂ por ano. Desse total, cerca de 74% estão concentrados na pecuária, o que reforça a importância estratégica do setor para o combate à crise climática.
Em seguida, aparecem Índia, China e Estados Unidos, que também concentram volumes significativos, mas com distribuição mais equilibrada entre diferentes cadeias produtivas.
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