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Pesquisadores realizam estudo sobre a “terra preta” indígena

Pesquisadores realizam estudo sobre a “terra preta” indígenaConhecimento ancestral e solo fértil. Foto: Felipe Santos da Rosa/ Embrapa

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Uma equipe de cientistas, composta por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, utilizou uma abordagem que combina dados arqueológicos com a análise dos hábitos atuais dos kuikuros (grupo indígena do Alto Xingu). Isso resultou na construção do retrato mais abrangente até o momento sobre a composição da chamada “terra preta”. Os resultados dessa pesquisa foram  publicados na revista científica Science Advances. As informações são da Folha de S. Paulo.

O estudo indica que a misteriosa “terra preta”, um solo extremamente fértil encontrado na Amazônia, era provavelmente produzida de maneira intencional pelos indígenas muito antes da chegada dos europeus às Américas. Essa descoberta lança luz sobre as práticas de manejo do solo por comunidades indígenas antigas na região que contribuíram para a criação desse solo altamente produtivo.

Os indígenas tinham o hábito de descartar resíduos orgânicos de atividades como pesca e cultivo de mandioca, bem como carvão e cinzas de fogueiras, em locais específicos em suas aldeias, explica o estudo. Essa prática intencional resultava na criação de solos similares à terra preta, conhecidos por serem altamente férteis. Ela era usada para cultivar culturas que requeriam níveis de nutrientes acima da média. Isso destaca a sabedoria das práticas de manejo do solo das comunidades tradicionais.

Coordenado por Morgan Schmidt e Taylor Perron, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA), o estudo também teve participação do arqueólogo Eduardo Neves, da USP, do agrônomo Wenceslau Teixeira, da Embrapa Solos, por Yamalui Kuikuro e outros seis representantes da população indígena do Xingu.

Análise

Os solos analisados apresentaram níveis de acidez bem mais baixos do que a maioria dos solos na região amazônica, o que é positivo para a agricultura. Eles também continham altos teores de matéria orgânica, conforme o esperado, e um teor de nutrientes como fósforo, potássio e magnésio pelo menos dez vezes maior do que o solo circundante. Além disso, a quantidade de terra preta encontrada era significativa, chegando a 4.500 metros cúbicos desse tipo de solo em um dos sítios arqueológicos analisados.

A similaridade na composição química e na localização da terra preta em solos arqueológicos e em solos das aldeias indígenas atuais sugeria que o processo de formação era semelhante. Moradores do território indígena revelaram em entrevista aos pesquisadores que eles chamam essa terra preta de “eegepe” e a associam tanto aos seus ancestrais quanto ao seu trabalho agrícola atual.

Essa conexão entre as práticas agrícolas tradicionais e a terra preta destaca a importância desse conhecimento ancestral na criação e manutenção de solos férteis na região amazônica.

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