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Problemas respiratórios crescem até 20% por causa de queimadas em Mato Grosso

Problemas respiratórios crescem até 20% por causa de queimadas em Mato GrossoCrianças e idosos são os que mais sofrem com fumaça. Foto: Instituto Butantan

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Por: André Garcia

Associada à seca e à baixa umidade, a fumaça das queimadas pode ter contribuído para um aumento superior a 20% nos atendimentos de pacientes com problemas respiratórios em consultórios de Cuiabá. Neste cenário, vale lembrar que Mato Grosso é o Estado que mais sofreu com focos de queimadas nos primeiros oito meses de 2022. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam registros de 16.458 focos,19,5% do quantitativo do país todo.

A reportagem do Gigante 163 ouviu quatro pneumologistas que elencaram uma série de doenças desencadeadas ou agravadas pela combinação do tempo seco com a fumaça. O diagnóstico comprova que, embora parte dos incêndios ocorra em propriedades rurais e áreas de mata, o prejuízo não se resume ao dano ambiental e tem impacto também para quem vive nas cidades.

Assim, a porcentagem de 20%, observada pelo médico Arlan Azevedo, também tem, segundo ele, relação com o maior número de vírus circulantes e com a amplitude térmica com grande variação (frio X calor). Houve ainda o retorno às aulas.

“Crianças têm maior facilidade para contrair infecção por vírus que não tinham entrado em contato ainda na fase de isolamento causada pela pandemia de covid-19.”

Já Carlos Garcia estima que a porcentagem das internações por infecções respiratórias é de cerca de 10%. Para o médico, embora a baixa umidade seja comum no inverno do Centro-Oeste, podendo ficar abaixo dos 20%, a poluição gerada pelas queimadas deve ser considerada como agravante neste contexto.

“A poluição decorrente das queimadas associada à baixa umidade do ar pode acarretar aumento da incidência de doenças cardiovasculares, infecções respiratórias especialmente em pacientes portadores de doenças respiratórias crônicas, como asma, enfisema, principalmente em crianças e idosos”, diz.

A mudança também é notada pela pneumologista Mariane Foss.

“Há um aumento principalmente nos prontos atendimentos, mas notamos a mudança também no consultório. Muitos pacientes que já fazem acompanhamento por doenças respiratórias apresentam piora dos sintomas. Há ainda uma procura por pacientes que não tem nenhuma doença respiratória crônica, mas que chegam com quadros agudos.”

Aparelho respiratório

Segundo o pneumologista Lucas Bello, isso ocorre porque as queimadas fazem com que as condições ambientais se tornem hostis para o aparelho respiratório humano.

“Existe um ressecamento da pele das mucosas, o que favorece o aparecimento das manifestações alérgicas e das infecções respiratórias. Sem contar que a fumaça também é irritante para a via respiratória.”

Embora a Secretaria de Saúde de Cuiabá não tenha um levantamento que aponte aumento específico nos atendimentos de casos respiratórios, a médica de saúde da família Marina Koscheck já havia previsto a situação no mês de julho. À época ela contou à reportagem que na Unidade de Saúde da Família (USF) do Jardim Colorado, em Cuiabá, onde trabalha, os profissionais já se preparavam para agosto e setembro.

“Infelizmente, com o aumento de casos de covid-19 e gripe, não é possível ainda atrelar o número de pacientes respiratórios à alta ocorrência de queimadas. Mas quem trabalha aqui já sabe que os meses de agosto e setembro são sempre bastante complicados por conta disso”, afirmou.

Principais doenças e sintomas

Os quadros observados pelos profissionais com mais frequência incluem resfriado, sinusite e amigdalites, além de piora de quadros crônicos, como rinite, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Com relação aos sintomas, as principais queixas são tosse, falta de ar, obstrução e prurido nasal, espirros, dificuldade para respirar e, eventualmente, crises de falta de ar.

“Os mais atingidos são aqueles com extremos de idade, ou seja, crianças e idosos, e as pessoas que já têm um histórico de problema respiratório. A fumaça também é irritante para a via respiratória e vai fazer com que as pessoas que já tenham predisposição para alergia respiratória ou que já tiveram sintomas respiratórios em outros períodos sintam agora novamente”, explica Lucas.

Precauções

Quando se fala sobre precaução os médicos são unânimes em recomendar reforço na hidratação e o uso de umidificadores e toalhas molhadas. Cuidado que deve ser redobrado com crianças e idosos. Além disso, pedem que as pessoas evitem atividade física no período mais crítico do dia, entre 11h e 15h.

“Não podemos controlar o tempo, mas podemos controlar o ambiente em que estamos por meio do uso de umidificador, de toalhas molhadas, molhando com mais frequência as plantas do jardim, jogando água nas calçadas e eventualmente colocando soro fisiológico no nariz pra ajudar na hidratação,” afirma Lucas.

Mariane também fala sobre a importância de hábitos saudáveis, de uma boa alimentação e da prática regular de atividade física. “Para os pacientes que já possuem doenças respiratórias, manter uso regular das medicações e acompanhamento com o médico assistente. E para aqueles que não têm doenças prévias e estão apresentando sintomas, adotar as medidas citadas e passar por avaliação médica.”

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