No coração do agronegócio, o compromisso com a sustentabilidade está se convertendo em lucro. Um grupo de produtores rurais de Mato Grosso, que participa do programa Gente que Produz e Preserva, gerenciado pela Associação Clube Amigos da Terra (CAT Sorriso), recebeu R$ 11 milhões em bônus nos últimos dez anos. O valor é resultado da comercialização de créditos de sua produção certificada pela Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS).
Na safra passada, 54 fazendas da região conquistaram o selo RTRS ao produzirem 684 mil toneladas de soja em 290 mil hectares, provando que é possível conciliar alta produtividade com rigorosos padrões de responsabilidade. O grupo do CAT Sorriso representa 9% dos créditos RTRS negociados no mundo, confirmando o valor agregado da soja brasileira sustentável.
“A certificação RTRS é reconhecida internacionalmente e atesta que a soja segue padrões rigorosos de responsabilidade ambiental e social, atendendo às exigências de mercados cada vez mais conscientes e exigentes,” explica Júlia Ferreira, gestora de Certificação do CAT Sorriso. “As comercializações da safra 24/25 já começaram com países, como Holanda, Argentina e Alemanha”, explicou.
Quais são os critérios?
O selo RTRS exige o cumprimento de 108 critérios divididos em cinco princípios, que abrangem: responsabilidade ambiental, boas práticas agrícolas, conformidade legal e boas práticas empresariais, condições de trabalho e respeito às comunidades locais.
A entrada de novos players no programa, como a GFO Agrícola, reforça essa tendência. A empresa, com áreas em Lucas do Rio Verde e Nova Maringá, colheu 630 mil sacas de soja certificadas na última safra. A diretora financeira, Fabiane Cristina de Oliveira, destaca que o processo fortalece a gestão: “Quando a auditoria externa vem e constata que está tudo 100% correto, isso fortalece a nossa equipe”.
Da máquina ao alojamento: controle total
O controle é rigoroso e contínuo, começando no campo, já na semeadura para a safra 25/26:
- Uso de Combustível: É feito um acompanhamento administrativo minucioso do consumo de diesel “máquina por máquina”, visando ao uso racional do combustível fóssil e à mitigação das emissões.
- Trabalho e Bem-Estar: A certificação exige o respeito e a valorização dos trabalhadores. Fabiane de Oliveira detalha que a GFO Agrícola oferece alojamentos de ponta com ar-condicionado e quartos para, no máximo, três pessoas. A alimentação é supervisionada por uma engenheira de alimentos, e a empresa se orgulha de não ter tido uma ação trabalhista em 35 anos.
- Comunidade: O compromisso social prioriza a contratação de moradores locais e a compra no comércio da região, garantindo que o desenvolvimento se reverta para as comunidades vizinhas.
O trabalho é facilitado pela equipe do CAT Sorriso, que atua previamente, realizando a gestão e a consultoria para garantir que “tudo esteja organizado” quando a auditoria externa, conduzida por uma certificadora independente, chegar.

