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SAF traz retorno de 74% e fazenda de MT vira modelo em regeneração

SAF traz retorno de 74% e fazenda de MT vira modelo em regeneraçãoFazenda investe em espécies como cacau, açaí e baru. Foto: Divulgação/Belterra

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Por André Garcia

Uma fazenda de médio porte em Cocalinho (MT) está mostrando que dá para ganhar dinheiro recuperando terra degradada. Usando um sistema agroflorestal com cacau e outro de pasto rotacionado com árvores, a Fazenda M chegou a uma taxa de retorno de até 74% ao ano. O investimento inicial se paga em quatro anos, e a cada R$ 1 investido, o produtor pode receber de volta R$ 3,13 — sendo R$ 2,13 de lucro.

Esses resultados fazem parte de um estudo, em que se avaliaram modelos de produção que juntam plantio de árvores, agricultura e pecuária de forma integrada e sustentável, em áreas já abertas do Cerrado.

“Os SAFs são uma forma inteligente de recuperar a terra e gerar renda. Mas para dar certo, é preciso fortalecer toda a cadeia e envolver também as comunidades locais, como na coleta de sementes”, explica Marco Bellotti, da Belterra Agroflorestas.

Diversificação na prática

Na Fazenda M, foram plantados 300 hectares com espécies como cacau, açaí, baru, cúrcuma e mogno africano. Além disso, outros 2.162 hectares foram usados com pastagem rotacionada e plantio de árvores para sombra e recuperação do solo. A diversidade de espécies garante que o dinheiro comece a entrar já no segundo ano, com colheitas de cúrcuma e banana.

Depois disso, o cacau passa a ser a principal fonte de renda quando começa a produzir de verdade.

“A interação entre atividades mais intensivas em menor escala, como o SAF Cacau, com atividades menos intensivas em maior escala, como o SSP Rotacionado, se apresenta como uma opção de diversificação viável dos pontos de vista operacional, econômico e ambiental”, diz trecho do estudo.

Lucro acumulado e recuperação do solo

Mesmo em cenários mais conservadores, o sistema agroflorestal com cacau teve um retorno de 16,7% ao ano. O lucro acumulado por hectare chega a mais de R$ 320 mil em 20 anos. Além de recuperar a fertilidade da terra e atrair chuva, o modelo ajuda a proteger a lavoura de variações climáticas e facilita o acesso a crédito rural e financiamentos verdes.

A fazenda também lucra com a pecuária. O sistema silvipastoril rotacionado, que mistura gado e árvores, teve taxa de retorno de 17,2% ao ano. O investimento se paga em sete anos e ainda gera créditos de carbono, graças ao sequestro de CO₂ no solo e nas árvores. Com sombra e manejo certo, o gado engorda melhor e o pasto se mantém mais saudável por mais tempo.

Reduzindo Riscos Climáticos

A presença de diferentes espécies e ciclos produtivos permite à Fazenda M. amortecer perdas e manter fluxo de caixa constante, mesmo em anos desfavoráveis. Esse arranjo protege contra choques de mercado e variações climáticas, além de reduzir a dependência de insumos externos e ampliar o controle sobre o sistema produtivo.

Um dos pontos fortes desse modelo é justamente não depender de uma única fonte de renda. Como as espécies têm ciclos diferentes e ocupam funções variadas no sistema, o produtor tem mais segurança, mesmo quando o clima atrapalha ou o preço de um produto cai.

“O caso da Fazenda M. mostra que é possível ganhar dinheiro regenerando a terra, e que o retorno econômico pode ser significativo mesmo em regiões desafiadoras como o Cerrado”, concluem os autores do relatório.

 

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