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Uso de sistema agroflorestal muda vida de agricultores de Aripuanã

Uso de sistema agroflorestal muda vida de agricultores de AripuanãMiguel, filho do casal Aline e Marcos, no galinheiro agroecológico da propriedade Foto: Empaer

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O uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em propriedades de agricultura familiar e terras indígenas da região Noroeste de Mato Grosso tem garantido uma produção que respeita o meio ambiente, recupera áreas degradas e, ao mesmo tempo, auxilia na diversificação de renda dos pequenos produtores.

O diagnóstico foi constatado por técnicos e autoridades da Empaer (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural), em novembro, em propriedades que há um ano vêm recebendo assistência de forma continuada.

Em Aripuanã (a 1.002 km de Cuiabá), seis famílias foram incluídas no projeto “Sistemas Agroflorestais manejados participativamente com tecnologias agroecológicas”, realizado pela Empaer, em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), a Prefeitura de Aripuanã, e apoiado pelo Programa REM.

Por meio do projeto, os produtores foram contemplados com galinheiros agroecológicos, tanques de geomembrana para armazenar água para irrigação, sistema de fertirrigação, além da área plantada com mudas de banana (Farta velhaco e BRS princesa) e mamão, que já estão produzindo e sendo comercializadas na região. Foram plantadas, ainda, mudas de cacau entre as culturas que estão em desenvolvimento.

O coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural da Empaer e responsável pelo projeto, o engenheiro agrônomo Fabrício Tomaz Ramos, explica que os sistemas agroflorestais aliam o cultivo agrícola, espécies florestais e criação de animais, juntos numa mesma área.

“Isso tudo de forma que uma atividade traz benefício para outra. O objetivo é mostrar que os SAFs geram renda, beneficiam o meio ambiente e incluem os jovens rurais e, isso, pode ser referência no Estado”, observa.

O antes e o depois

O engenheiro ainda destaca a importância do envolvimento das famílias, da equipe técnica da Empaer e dos gestores na validação do que foi planejado até o momento e o que precisa ser readequado.

“É a oportunidade de ver o antes e o depois nas propriedades, identificar se os produtores seguiram as orientações, como as culturas se desenvolveram ao longo de quase um ano, além de saber se os investimentos aplicados estão fazendo a diferença na vida dessas famílias”.

Segundo o coordenador, o projeto é uma jornada, ou seja, foi uma “semente que germinou” e agora está em pleno desenvolvimento.

“São etapas que vão avançando e o resultado esperado é ser referência para agricultores e agricultoras de Aripuanã e municípios no entorno”, frisa Fabrício.

O foco é colocar o conhecimento em prática para que as famílias que foram selecionadas possam viver da terra. Ainda, o objetivo é aumentar a produtividade por hectare com redução dos custos de produção, aumentar o estoque de carbono no solo e nas plantas, bem como reduzir o uso da enxada com tecnologia, de modo a evitar o trabalho penoso no sol quente. A ideia é também convencer a juventude rural (agricultores do futuro) que é possível gerar uma renda superior no campo do que na cidade.

O projeto visa transformar essas propriedades em “Unidades Demonstrativas e Multiplicadoras” de tecnologias agroecológicas e modelo de assistência técnica e extensão rural.

Mudança de vida

É exemplo o casal Marcos dos Santos Tizziani e Aline Gomes Leite Tizziani, ambos com 25 anos. Eles já estão produzindo e comercializando bananas e mamão para escolas e creches da cidade.

Segundo Marcos, a renda da família, que antes do projeto era de no máximo R$ 2 mil reais ao mês, considerando toda a propriedade e os serviços de diarista, saltou para R$ 10 mil reais em uma área de 1 hectare.

“É preciso muito trabalho e dedicação. Comprei o sítio Estrela Celeste dos meus pais. Já tinha desistido da vida do campo, mas, como sempre gostei, decidi apostar e, quando fui convidado para participar do projeto, aceitei de pronto e estou muito satisfeito. Mudou a minha vida e hoje não preciso trabalhar fora da propriedade e tenho mais tempo para minha família”, afirma.

Aline lembra que, junto do marido, tiveram momentos de aperto e, com a chegada do filho, Miguel, hoje com 4 anos, era preciso buscar uma forma para melhorar as condições financeiras.

“Ter uma propriedade requer cuidado, dedicação e muito trabalho. Acordar antes das 4h da manhã é preciso e faz parte do nosso dia a dia. Hoje, nossa propriedade dá lucro, compramos um carro e começamos a reformar nossa casa. Agora vamos continuar trabalhando para aumentar a produção e contamos com a ajuda da Empaer”.

Investimento em agroecologia

Para Julielton Ribeiro de Souza, 30 anos, a iniciativa também serviu para mudar suas expectativas junto à lida no campo. O projeto oportunizou, também, um viveiro de mudas de café no Sítio São Jorge, localizado no distrito de Conselvan.

“Meu objetivo é investir na agroecologia e mostrar para alunos e moradores da região as práticas de sistemas agrícolas que incorporam as questões sociais, políticas, culturais, ambientais e éticas”.

O casal Aparecido Joaquim da Cruz e Zilda Ribeiro dos Santos, proprietários do Sítio Raio de Luz, ponderou que voltou a sonhar com o resultado da produção de banana, mamão e cacau.

“Vivemos no sítio desde 2010 e sempre tivemos que completar a renda com a confecção de cestas, pois a aposentadoria não é suficiente. Eu e meu velho gostamos de trabalhar na roça, cuidar de galinhas e comer o que produzimos. O projeto trouxe tudo isso. Com a venda das primeiras bananas já investimos em melhorias e vamos continuar trabalhando para melhorar ainda mais”, destaca dona Zilda.

Renda justa

Na comunidade do Lontra, a família do jovem Leonardo Samuel de Oliveira Campos, 22 anos, também está contente com os primeiros resultados da venda da banana e do mamão para escolas e creches da região. Seus avós, Genivaldo Dias Campos, 64 anos, e Ivanete Rodrigues de Oliveira Campos, 61 anos, que também fazem parte do projeto, destacam a mudança que o projeto proporcionou na qualidade de vida da família.

“Sempre vivemos da terra, mas com muita dificuldade. Hoje, ver o nosso trabalho duro proporcionar uma renda justa é muito bom e vem para mostrar que conseguimos sim viver do que produzimos”, reforça dona Ivanete.

Para Edjalma Gomes do Nascimento, 59 anos, e sua esposa, Ivani Marques do Nascimento, 55 anos, proprietários do Sítio Nova Esperança, o projeto trouxe novas expectativas para o casal.

“Fomos os primeiros moradores da região, em que na época só tinha mato, e mesmo assim sempre acreditamos que viver da terra é possível. Criamos quatro filhos e vamos ser referência e modelo para ajudar outros produtores da cidade”, destaca Edjalma.

O que é o Programa REM?

O Programa REM MT (REDD Ealy Movers Mato Grosso) é uma premiação dos governos da Alemanha e do Reino Unido, por meio do Banco Alemão de Desenvolvimento (KFW), ao estado do Mato Grosso pelos resultados na redução do desmatamento nos últimos anos (2006-2015).

Coordenado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o programa beneficia aqueles que contribuem com ações de conservação da floresta, como os agricultores familiares, as comunidades tradicionais e os povos indígenas, e fomenta iniciativas que estimulam a agricultura de baixo carbono e a redução do desmatamento, a fim de reduzir emissões de CO2 no planeta. O programa tem como gestor financeiro o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

Fonte: Governo de Mato Grosso