Por André Garcia
O desmatamento da Amazônia já ameaça as bases da economia nacional, reduzindo chuvas, comprometendo safras e provocando prejuízos bilionários no campo, que, nos últimos anos, perdeu R$ 250 bilhões por conta da seca. A análise faz parte de estudo do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio) divulgado nesta sexta-feira, 10/10.
De acordo com a publicação, até 2050, entre 10% e 47% da floresta estarão expostos a distúrbios que poderão desencadear transições florestais e perda de integridade, impactando a oferta de serviços ecossistêmicos. Ou seja: proteger a Amazônia é proteger o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
“O desmatamento da Amazônia, além de acarretar profundos impactos ambientais, climáticos e de perda de biodiversidade, é uma ameaça à economia brasileira. A proteção da Floresta Amazônica precisa ser estrategicamente encarada como prioridade nacional”, explicam os autores, Gustavo Pinto e João Pedro Arbache.
Eles citam ainda levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que mostra que entre 2013 e 2022, a agricultura teve prejuízo de R$ 186 bilhões e a pecuária de R$ 64 bilhões. As regiões mais afetadas estão justamente no caminho dos rios voadores — correntes de ar úmido que levam chuva da floresta para o resto do País.
Além disso, o desmatamento afeta o abastecimento urbano, a geração de energia e o transporte hidroviário. A seca de 2024, por exemplo, reduziu em 40% o escoamento de grãos pela Amazônia, forçando o redirecionamento de cargas e elevando os custos logísticos.
MT no centro da crise
O estudo identifica o norte de Mato Grosso como uma das regiões mais sensíveis aos efeitos do desmatamento. A Usina Hidrelétrica de Teles Pires, por exemplo, já perdeu R$ 115 milhões por ano de receita devido à queda no volume de chuvas, um sintoma direto da redução de umidade trazida pelos rios voadores.
No mesmo eixo, estão alguns dos maiores polos agropecuários do País. Em municípios como Sorriso, Sinop, Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, a produção de soja e milho é totalmente dependente das chuvas. E apenas 13% da área agrícola nacional conta com irrigação, segundo o relatório.
Isso significa que 87% da produção brasileira ainda depende do ciclo natural da água, mantido pela floresta.
Impacto das queimadas no campo
As consequências da falta de chuva também se refletem no avanço das queimadas, que afetam diretamente a produtividade no campo.
Em 2024, o Brasil registrou uma das maiores temporadas de incêndios da última década: 30,8 milhões de hectares queimados, alta de 79% em relação a 2023.
Segundo o relatório, as queimadas atingiram 18,9 milhões de pessoas e provocaram perdas de R$ 14,7 bilhões à economia rural — R$ 8 bilhões em pecuária e pastagens e R$ 2,7 bilhões em cana de-açúcar. O fenômeno foi agravado pela estiagem extrema associada ao El Niño, que reduziu ainda mais o volume de chuvas em todo o país.
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