Por André Garcia
O Brasil é um cofre de carbono orgânico: são 37,5 gigatoneladas armazenadas, segundo levantamento do MapBiomas divulgado na sexta-feira (5). Esse carbono é formado pela decomposição de raízes e restos vegetais e funciona como um indicador direto da qualidade do solo, da sua fertilidade e da sua capacidade de reter água.
O levantamento reforça o potencial desse estoque no combate à crise climática, aprimora estratégias do agronegócio e orienta o planejamento territorial. Isso porque, ao revelar o que está armazenado abaixo da superfície, os dados se tornam subsídio direto para políticas públicas e decisões de mercado.
“O solo é um arquivo do tempo: nele se acumulam sinais de clima, vegetação e relevo que moldaram o território ao longo da história. Compreender esses padrões é olhar para o país também pelo que se conserva abaixo da superfície”, explica Alessandro Samuel-Rosa, um dos coordenadores do MapBiomas Solo.
Diferenças regionais
O novo levantamento mostra como diferentes regiões acumulam carbono de maneiras distintas. Ambientes úmidos e com maior teor de argila tendem a guardar mais matéria orgânica ao longo do tempo. A Amazônia, por exemplo, concentra 52%, de todo o estoque nacional.
Já nas regiões menos úmidas, onde predominam solos arenosos, o acúmulo de carbono tende a ser menor. A água infiltra e evapora mais rapidamente, e a matéria orgânica se perde com mais facilidade. É o caso de biomas como Cerrado, Caatinga e Pantanal, que concentram áreas com mais de 60% de areia, retendo menos carbono e nutrientes.
“Em solos descobertos, revolvidos ou com vegetação rala, a mudança textural tende a dificultar a infiltração e aumentar o risco de erosão do solo. Esse efeito aumenta, com eventos de precipitação extrema”, afirma Alessandro.
Uso da terra segue a lógica do solo
A análise histórica, que compreende o período entre 1985 e 2024, mostra que a ocupação do território acompanhou essas características físicas. As pastagens se expandiram, principalmente, sobre áreas de textura média e arenosa, onde a fertilidade é mais variável e a água se perde com maior rapidez.
Já a agricultura avançou sobre solos mais argilosos e com baixa pedregosidade, que oferecem melhores condições de retenção hídrica e mecanização. A silvicultura, por sua vez, cresceu em regiões onde a presença de pedras na superfície limita práticas agrícolas tradicionais, mas favorece espécies florestais com raízes mais robustas.
“Nos solos mais pedregosos, em que a agricultura encontra limitações, espécies florestais com sistemas radiculares mais robustos conseguem explorar o ambiente com maior eficiência. Já os solos mais rasos ainda são majoritariamente ocupados com pastagem”, aponta Taciara Zborowski Horst, que também coordena a iniciativa.
O que isso sinifica na prática
Além dos novos mapas de propriedades do solo, o MapBiomas Solo também lançou a plataforma Soildata, que permite identificar onde há amostras de solo coletadas por pesquisadores e técnicos e descarregar os dados para uso em suas atividades. Veja quatro aplicações diretas desse lançamento:
1 – Apoio à agenda climática global: O solo é o principal reservatório terrestre de carbono, e mapear o carbono orgânico do solo (COS) fortalece ações de enfrentamento à crise climática. Ao identificar onde esse carbono está concentrado, o estudo reforça a importância da conservação de áreas que funcionam como estoques naturais.
2 – Mitigação de emissões: O levantamento localiza as regiões que concentram os maiores volumes de carbono no solo. Conhecer esses pontos permite direcionar esforços de fiscalização e políticas de conservação para evitar a perda desse carbono para a atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO₂).
3 – Suporte ao mercado de carbono: Ao indicar onde o COS pode ser preservado ou incrementado, o mapeamento facilita o posicionamento do agronegócio em iniciativas de créditos de carbono. Produtores que adotam práticas sustentáveis passam a contar com um mapa detalhado para quantificar e valorizar seus ativos ambientais.
4 – Otimização do manejo agrícola: Os dados de textura e pedregosidade ampliam a capacidade do produtor rural de ajustar o manejo às condições reais do solo. Como o COS é um indicador direto de saúde e fertilidade, conhecer melhor suas variações ajuda a definir práticas mais eficientes.
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