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Caso Galvan escala racha do agro em torno de Bolsonaro

Caso Galvan escala racha do agro em torno de Bolsonaro

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Da redação

O chamado agronegócio brasileiro é uma colcha de retalhos em constante reconfiguração. Dependendo das circunstâncias, certos núcleos expõem mais suas visões políticas que outros. O que a grande maioria prega é trabalhar em paz, mas quando vigora a dissidência, o acordado pelo setor é de que as opiniões sejam expostas de forma individual, não em nome das entidades que representam.

Em agosto, não foi isso que ocorreu. O cerco se fechou contra o presidente da Aprosoja-MT, Antonio Galvan, por suspeitas de financiamento de atos a favor do fechamento do Supremo Tribunal Federal. Foi aí que a colcha de retalhos rasgou, estimulando reações públicas contrárias e a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em conversa com o Gigante 163, um exportador conhecido de milho, que pediu anonimato, negou que exista um racha no agronegócio com relação ao apoio a Bolsonaro. Resumiu que “tem uns que gostam mais de aparecer que outros, mas que a maioria tem plena confiança na ministra Tereza Cristina”.

O fato é que o agronegócio nunca foi homogêneo politicamente. O histórico das dezenas de entidades que representam o setor é prova disso. A gigante Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), por exemplo, já passou por várias reconfigurações para acomodar os da “porteira para fora” com os da “porteira para dentro” sob muitos embates.

O livro “O Agro Não É Pop: É Político” (Ed. Elefante), de Caio Pompeia, também mostra como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) passou pelo mesmo processo conturbado internamente. A Frente Parlamentar da Agricultura tampouco é 100% coesa, assim como o Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que financia a FPA. E mesmo entre essas representantes do agro, as divergências são constantes. Há uma ciumeira para ver quem é mais representativo do setor na hora em que deixam suas demandas na mesa da ministra Tereza Cristina.

Não são todos farinha do mesmo saco, como afirmou outro produtor de soja do nosso Estado ao Gigante 163. Segundo disse, não há, no momento, consenso de que o voto dado pela maioria dos produtores rurais ao presidente Jair Bolsonaro valeu a pena. Grande parte não quer ser vista na história e diante dos netos como apoiadores, ou financiadores, de um presidente que provoca instabilidade jurídica, política e econômica. Querem trabalhar em paz, como já disse o outro.

Somado a isso, o caso Galvan causou um tsunami aqui no Centro-Oeste. Levou para o meio da enxurrada enlameada a Aprosoja junto. Não se falava em outro assunto no Estado na semana de agosto em que a Polícia Federal realizou mandado de busca e apreensão na residência dele em Sinop. Galvan é um dos investigados pelo STF no inquérito dos atos antidemocráticos. Com isso, a ala do agronegócio que rejeita Bolsonaro aproveitou.

O presidente da Abag, por exemplo, Marcelo Britto, foi o entrevistado no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, justo na semana seguinte à visita da PF a Galvan. Sua posição crítica ao presidente da República é conhecida, especialmente quando o assunto é desmatamento, grilagem, garimpo ilegal e mudanças climáticas.

Blairo Maggi tampouco ficou calado. O herdeiro da gigante Amaggi também condenou a postura política de Galvan que resultou no bloqueio das contas da Aprosoja Brasil e Aprosoja-MT pelo STF. Segundo o empresário e ex-ministro, Galvan pode defender quem ele quiser, mas não em nome da entidade. As divergências entre os dois, inclusive, já eram conhecidas mesmo antes do tsunami.

Era como se Blairo voltasse a ver o filme do uso que Galvan fez da associação no plantio irregular da soja dentro do vazio sanitário, alegando “experimento científico” diante da Justiça em 2020.

Ainda houve manifesto a favor da democracia assinado por sete associações da agroindústria (Abag, Abiove, Abisolo, Abrapalma, Crop Life Brasil, Ibá e Sindiveg) no final de agosto, quando Bolsonaro entrou em embate direto e arriscado contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Todo esse histórico mostra que não impera a tal paz desejada pelo setor. A calmaria ainda não foi vista desde janeiro de 2019, quando começaram a surgir os primeiros constrangimentos para os da “porteira para fora”. Em números, sim, o agro vai muito bem, mas politicamente acumula vários solavancos pelas próprias escolhas que faz. E turbulência não é bem-vinda na terra, nem na água ou no ar.