No Cerrado goiano, técnicas simples como rotação de culturas, uso de plantas de cobertura e semeadura direta estão ajudando produtores a conviver com as chamadas plantas espontâneas – o “mato” – sem depender de herbicidas. A estratégia, além de reduzir o custo e o trabalho com capinas, também fortalece sistemas orgânicos e agroecológicos, nos quais o uso de produtos químicos não é permitido.
Essa constatação vem de um estudo realizado ao longo de quatro anos na Fazendinha Agroecológica da Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás (GO), em área de transição do sistema convencional para o orgânico e agroecológico. O trabalho avaliou como diferentes plantas de cobertura e formas de preparo do solo influenciam na presença das plantas espontâneas.
Foram implantados experimentos combinando plantas de cobertura em sistema de semeadura direta e preparo convencional, além de uma área em pousio (apenas vegetação nativa presente na área) para comparação. Milho e feijão eram cultivados no período chuvoso, seguidos por crotalária, guandu, mucuna-preta e sorgo vassoura na entressafra.
No experimento, foram registradas 25 espécies de plantas espontâneas, com destaque para tiririca, trapoeraba, corda-de-viola, picão-preto e leiteiro. A tiririca, considerada um dos principais problemas em agroecossistemas tropicais, apresentou redução significativa nas áreas com cobertura de solo.
“Em sistema de semeadura direta, a população de tiririca foi também reduzida em cerca de três vezes comparativamente ao sistema de preparo convencional do solo”, relata Agostinho Didonet, pesquisador da Embrapa e um dos coordenadores do estudo. Ele explica que sorgo vassoura, milheto e crotalária, usados como cobertura de solo, ajudaram a manter o mato sob controle devido à alta produção de biomassa e à capacidade de cobrir o solo.
Outra planta comum no Cerrado, a trapoeraba, também foi afetada pelas plantas de cobertura. “A utilização da crotalária, guandu e mucuna permitiu quase o mesmo controle da trapoeraba, quando comparado ao pousio e ao sorgo vassoura”, disse Didonet. Nesse caso, o tipo de preparo do solo – convencional ou direto – não influenciou significativamente o efeito supressor.
O pesquisador ressalta que, de forma geral, o uso de plantas de cobertura manejadas no sistema de semeadura direta reduziu a competitividade das plantas espontâneas em lavouras orgânicas de milho e feijão.
Segundo Didonet, práticas como rotação de culturas na safra, cultivo de diferentes plantas de cobertura na entressafra e a presença de vegetação no pousio contribuem para manter o equilíbrio, sem predomínio de uma única espécie.
“Isso facilita o controle e a convivência com plantas espontâneas seguindo princípios agroecológicos na produção de grãos”, explica.
Essas estratégias também ajudam a preservar o solo, manter a biodiversidade e fortalecer a sustentabilidade da produção.
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