Por André Garcia
Para além dos discursos, a COP30, em Belém (PA), começa a anunciar soluções concretas: novos leilões, garantias e aportes para a bioeconomia, agricultura de baixo carbono, restauração e infraestrutura. Ao combinar recursos públicos e privados, a expectativa é destravar a adaptação à crise climática e a transição da economia.
Nos últimos dias, enquanto mecanismos específicos para a Amazônia e para tecnologias de baixa emissão eram lançados, Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMDs) divulgavam novas metas para acelerar o financiamento climático e apoiar países em desenvolvimento, que precisam de mais rapidez e escala no acesso ao crédito.
Propostas de fundos somam R$ 73,7 bilhões
A mobilização ganhou impulso, nesta sexta-feira (14), com a divulgação dos resultados preliminares da Chamada Pública de Mitigação Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil. Foram 45 propostas de fundos de investimento que somam um patrimônio-alvo de R$ 73,7 bilhões.
Desse total, os fundos pleiteiam R$ 21 bilhões de apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de operações de equity e crédito, com foco em setores como a agricultura de baixo carbono e restauração ecológica.
“Ao estimular o investimento privado de forma estruturada, criamos um mecanismo de escala que pode gerar impacto real e duradouro”, explicou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, ao adiantar que até 2026 será concluída a seleção de até sete fundos.
Quarto leilão do Eco Invest mira na Amazônia Legal
Nesta sexta (14), o governo federal lançou o 4º Leilão do Eco Invest Brasil: Bioeconomia e Turismo Sustentável com foco na Amazônia Legal. O programa já mobilizou mais de R$ 75 bilhões em investimentos para cadeias da sociobioeconomia, bioindústria e restauração ecológica e produtiva.
O leilão adota o modelo de blended finance, no qual o Tesouro Nacional empresta recursos a 1%. O crédito poderá ser repassado diretamente ou via fundos, sempre com instrumentos de redução de risco, e terá incentivo de 20% sobre o total alavancado para ampliar a capacidade das instituições financeiras.
“O Eco Invest Brasil completa a sua arquitetura, que definimos desde o início: financiamento misto, provisão de liquidez, apoio à preparação de projetos e instrumentos de hedge cambial”, avaliou o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn.
CIF recebe US$ 100 e países avançam em infraestrutura e restauração
Já no primeiro dia de Conferência, os Fundos de Investimento Climático (CIF) informaram que receberão um aporte inicial de US$ 100 milhões da Alemanha e Espanha para o programa de investimentos ARISE (Acelerando Investimentos em Resiliência e Inovações para Economias Sustentáveis).
Na quinta-feira (13), Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname lançaram o Instrumento do Programa Amazônia Sempre para Cidades e Infraestrutura Resiliente, que, com apoio do BID, deve mobilizar mais de US$ 1 bilhão para acelerar investimentos em segurança hídrica, energia limpa e infraestrutura urbana resiliente.
Em seguida, o BID aprovou a primeira garantia para restauração florestal. Serão US$ 15 milhões destinados à parceria público-privada para recuperação da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, no Pará. A novidade aumenta a segurança financeira do investimento privado e funciona como catalisador da participação do setor privado.
Financiamento global cresce, mas ainda abaixo da meta
Os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento dobraram o financiamento para adaptação desde 2019 e destinaram mais de US$ 26 bilhões a países de baixa e média renda em 2024. No total, as instituições forneceram US$ 137 bilhões em financiamento climático neste ano e mobilizaram outros US$ 134 bilhões de capital privado.

Representantes governamentais e de bancos multilaterais de desenvolvimento em debate sobre o tema. Foto: Rafael Nedemeyer/COP30
Mesmo com esse avanço, o volume ainda está distante das metas para 2030, que preveem US$ 120 bilhões de recursos próprios e US$ 65 bilhões mobilizados junto ao setor privado. Os bancos apontam barreiras como restrições fiscais e pipelines de projetos limitados, que dificultam o progresso nos investimentos em adaptação.
Escala para a adaptação
Como solução, os BMD recomendam empenho para fortalecer a coordenação entre os diferentes setores de governos, transformando estratégias climáticas em oportunidades bancáveis. Durante apresentação de relatório com métricas e melhores práticas para ampliar a aplicação de recursos, Ilan Goldfajn chamou as instituições para a ação.
“O papel dos BMDs é ajudar os países a se prepararem, a investir em resiliência antes que a crise aconteça. Isso significa ampliar o financiamento, alinhar sistemas e tornar a resiliência central no modo como planejamos, construímos e crescemos. Juntos, podemos transformar preparo em proteção e resiliência em oportunidade”, concluiu ele.
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