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Floresta é solução para proteger a produção agrícola

Floresta é solução para proteger a produção agrícolaÉ preciso fortalecer os serviços prestados pelos ecossistemas. Foto: Foto: Divulgação/Belterra

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Por André Garcia

É fato que o avanço das mudanças climáticas já compromete a estabilidade agrícola no Brasil. Para proteger a produtividade no campo e manter a liderança do País no setor, não basta apenas usar as estratégias que os produtores já conhecem bem para intensificar a produção. É preciso focar também na manutenção da floresta como estratégia para ganhar eficiência.

“O que a gente vê é que a conta está começando a não fechar. O produtor investe muito e, muitas vezes, vem um período de estiagem que ele não esperava ou as condições climáticas estão um pouco piores, ou vem uma praga muito forte”, explica o biólogo André Andrade, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

O contraste entre as safras recentes ilustra a vulnerabilidade do setor. A temporada 2023/2024, por exemplo, foi marcada por uma das quebras de safra mais severas dos últimos anos, provocada pelos efeitos do El Niño. Já para o ciclo 2024/2025, estima-se que será colhido um total de 336,1 milhões de toneladas de grãos.

Mas o que compensou parte das perdas provocadas pelo clima foi a expansão da área plantada, que cresceu 1,7 milhão de hectares.  Ou seja, não se pode atribuir esse resultado a uma estabilidade real do sistema produtivo, já que, no ano passado, mesmo quem gastou com irrigação, defensivos e correções de solo, não conseguiu evitar perdas.

André aponta que modelo de intensificação é limitado. Foto: IPAM

O aumento do déficit de pressão de vapor (VPD), que torna o ar mais seco e árido, e a extensão dos períodos de estiagem são as principais causas disso.  É o que constata André a partir dos dados do projeto GALO (Global Assessment from Local Observations), que investiga a relação entre agricultura e preservação da Amazônia e do Cerrado.

“Quando o VPD está muito alto, ou seja, com um ar mais árido e seco, nos primeiros estágios de plantio, a produtividade é afetada no final da safra, porque a soja — que é o que nós temos estudado — não consegue crescer. Quando começa a chover mais tarde, isso também acaba tendo um efeito muito negativo para a produtividade da soja.”

Limitações do modelo de produção intensiva

Neste cenário, o principal desafio é a dependência da agricultura brasileira de sequeiro, que torna a produção altamente vulnerável à irregularidade das chuvas. Mesmo em áreas irrigadas, onde o manejo intensivo permite corrigir deficiências do solo e controlar a oferta de água, a sustentabilidade desse modelo a longo prazo é incerta.

“Por mais que existam recursos tecnológicos e financeiros muito grandes, há um limite para tudo. Por exemplo, no ano passado, que foi o ano de El Niño em que foi registrada a quebra de safra, não teve manejo que conseguiu reduzir totalmente as perdas”, alerta o pesquisador.

No Oeste da Bahia, por exemplo, os produtores conseguem manter a produtividade com irrigação, mas é um sistema que custa caro e que não pode ser replicado em larga escala por muito tempo. Há ainda o risco de a estratégia piorar a escassez, caso a expansão da irrigação siga sem planejamento integrado, e gerar conflitos por água.

“A gente pode até pensar em soluções de curto prazo, como ampliar a irrigação em grande escala, mas isso inevitavelmente traria outros problemas, como a redução dos níveis dos rios e conflitos pelo uso da água”, pontua.

Floresta em pé é estratégia para o campo

Por isso, ao invés de investir apenas em tecnologias de controle artificial, é preciso fortalecer os serviços ambientais prestados pelos ecossistemas e garantir o futuro da agricultura. Neste cenário, uma das estratégias é a recomposição de áreas de floresta ao redor das lavouras.

“Ter florestas no entorno aumenta os serviços ecossistêmicos que a biodiversidade presta, como a polinização e o controle de pragas, por aumentar a diversidade de diversos grupos que a gente encontra nesses fragmentos, como: besouros, abelhas, formigas, aves”, ressalta Andrade.

Há também um efeito de microclima, em que a gente consegue ter uma temperatura de superfície menor, com maior ciclagem de água, maior evapotranspiração.  Por isso ele defende o avanço de soluções baseadas na natureza, porque elas são baratas, longevas e sustentáveis.

“Temos que pensar cada vez mais em um tipo de produção mais longeva, e isso é global. Não é só na nossa fronteira agrícola, que é a região onde o GALO trabalha. Isso vai ter em todos os países tropicais daqui para frente”, defende.

 

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