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Produção de gado e floresta em MT abre portas para mercado premium

Produção de gado e floresta em MT abre portas para mercado premiumTeca funciona como reserva de valor. Foto: Divulgação/Embrapa

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Por André Garcia

Com retorno de até R$ 4,70 para cada real investido, o Sistema Bacaeri – BoiTeca une criação de gado e cultivo de teca no mesmo espaço. Desenvolvido pela Embrapa em Mato Grosso, o modelo ajuda a reduzir emissões por quilo de carne, armazenar carbono e ainda pode abrir as portas de mercados premium por meio de certificações ambientais.

Com a estratégia, a madeira nobre da teca, que cresce lentamente funciona como reserva de valor. Enquanto ela se desenvolve, o pecuarista mantém o gado na área e ainda pode aproveitar os primeiros meses para agricultura, reforma de pastagem ou produção de silagem. Com manejo adequado, o sistema viabiliza ganho financeiro com a pecuária, os desbastes intermediários e, por fim, o corte final das árvores após 20 a 25 anos.

“O Brasil precisa de alternativas concretas para reduzir emissões no setor agropecuário, e os sistemas integrados são uma das soluções mais promissoras. O BoiTeca combina produtividade, conservação e oportunidade de renda com ativos ambientais”, avalia o pesquisador Maurel Behling.

Mato Grosso tem tudo para avançar por este caminho, uma vez que concentra 80% da área plantada com teca no Brasil, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Dos 84 mil hectares com a espécie no país, 68 mil estão no estado. Esse histórico favoreceu a criação do BoiTeca como solução regional com potencial de expansão nacional.

Tecnologia une sustentabilidade e acesso a mercados valorizados

A adoção do sistema também pode facilitar o acesso a certificações como Carne Baixo Carbono (CBC) e Carne Carbono Neutro (CCN), além de programas públicos como o Plano ABC+ e o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas. Segundo a Embrapa, o BoiTeca reúne todas as características técnicas exigidas para esse tipo de reconhecimento, desde que o manejo seja conduzido com rigor.

“A demanda por carne de baixo carbono tende a crescer, assim como a valorização de sistemas que provem estocagem de carbono. O pecuarista que investir hoje vai estar mais bem posicionado no futuro”, afirma Behling.

O sistema já está sendo replicado fora dos campos experimentais. Em parceria com a Teak Resources Company (TRC), 350 hectares foram implantados em Mato Grosso e no Pará. A meta é alcançar 12.500 hectares em cinco anos, com foco em produtores preocupados com sustentabilidade e retorno consistente. A capacidade de expansão pode ultrapassar esse número, caso haja interesse de pecuaristas e linhas de financiamento acessíveis.

Eficiência na pecuária

Segundo a Embrapa, mesmo com custo inicial mais elevado — cerca de R$ 3,2 mil por hectare —, os primeiros retornos começam a partir do oitavo ano. A maior receita vem no corte raso da teca, mas o ganho financeiro é progressivo, com redução de riscos, aumento da resiliência produtiva e valorização do imóvel rural.

É preciso considerar que, além da diversificação de receitas, o BoiTeca aumenta a eficiência da pecuária. A sombra das árvores reduz o estresse térmico, melhora o ganho de peso e encurta o tempo de abate — o que se traduz em menos metano emitido por quilo de carne produzida. Ao mesmo tempo, a biomassa florestal estoca carbono no tronco, galhos e raízes, reduzindo o saldo de emissões da propriedade.

 

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