As Nações Unidas retiraram oficialmente o Brasil do Mapa da Fome por tirar mais de 40 milhões de pessoas da insegurança alimentar em apenas dois anos. Essa conquista sem precedentes foi possível graças a uma combinação de fatores, incluindo o esforço incansável de todos os produtores, dos grandes aos pequenos, especialmente o apoio fundamental à agricultura familiar, e o impacto transformador das políticas sociais que elevaram o poder de compra da população.
É a primeira vez desde 2014 que o Brasil alcança esse patamar de segurança alimentar. As taxas de desnutrição, que preocuparam entre 2020 e 2022, recuaram mostrando que o País superou um dos principais indicadores de baixo desenvolvimento.
“O Brasil não venceu a fome por acaso – isso exigiu ação política coordenada. Fizemos isso colocando as pessoas, os agricultores familiares, as comunidades indígenas e tradicionais, e o acesso a alimentos locais de qualidade no centro – e incluindo os mais afetados. Em apenas dois anos, milhões de crianças não estão mais indo para a cama sem os alimentos saudáveis de que precisam para crescer”, afirma Elisabetta Recine, presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Brasil (Consea).
Produção de Alimentos
O sucesso brasileiro se baseia em uma estratégia multifacetada. O fortalecimento da agricultura familiar foi crucial, com ações que garantiram a produção de alimentos de qualidade e a preços acessíveis, fomentando a oferta. Paralelamente, as políticas sociais atuaram no lado da demanda, elevando o poder de compra e o acesso da população aos alimentos.
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada na cúpula do G20 em 2024, busca coordenar esforços globais para combater a insegurança alimentar extrema, tendo como base as políticas que funcionaram no Brasil, como:
- Transferências de renda para famílias vulneráveis, a exemplo da ampliação do Bolsa Família, que permitiu a milhões de pessoas acesso regular a alimentos.
- Compras públicas de agricultores familiares, que não só garantem renda aos pequenos produtores, mas também fornecem alimentos nutritivos para programas como a alimentação escolar universal.
- Aumento do salário mínimo, que contribuiu para o aumento geral do poder de compra das famílias.
- Apoio à produção agroecológica e orgânica, fortalecendo sistemas alimentares sustentáveis.
- Programas que melhoram o acesso a alimentos em áreas urbanas, como a expansão de mercados locais e restaurantes populares, beneficiando diretamente o consumidor final.
Essas políticas integradas, sob o guarda-chuva do programa Brasil Sem Fome, demonstram como ações coordenadas na produção e no acesso podem transformar a realidade social.
Os números da ONU
A desnutrição no Brasil caiu para menos de 2,5% – abaixo do limiar de notificação e muito baixa para aparecer no Mapa da Fome da ONU. “Desnutrição” significa que as pessoas não têm calorias suficientes para levar uma vida ativa.
14 milhões de pessoas foram tiradas da insegurança alimentar grave – uma redução de dois terços, de 21,1 milhões (9,9%) em 2020–2022 para 7,1 milhões (3,4%) em 2022–2024. No mesmo período, o Brasil libertou mais de 40 milhões de pessoas da insegurança alimentar moderada a grave – reduzindo o número de 70,3 milhões (32,8%) em 2020–2022 para 28,5 milhões (13,5%) em 2022–2024. Isso marca um dos declínios mais rápidos e significativos na insegurança alimentar já registrados.
Lembraindo que ppessoas que experimentam “insegurança alimentar grave” geralmente ficam sem comida ou passam um dia ou mais sem comer. Aqueles que enfrentam “insegurança alimentar moderada” reduzem regularmente a qualidade ou a quantidade de seus alimentos e vivem com incerteza sobre sua capacidade de acessar refeições.
A proporção de pessoas incapazes de pagar por uma dieta saudável também caiu, de um pico de 29,8% em 2021 para 23,7% em 2024.
Apesar dos progressos notáveis, a vigilância é constante, especialmente diante da alta nos preços dos alimentos. O modelo brasileiro, que combina o incentivo à produção diversificada com políticas sociais que fortalecem o poder de compra, oferece um caminho claro para um futuro com mais segurança alimentar para todos.