Por André Garcia
Os produtores brasileiros têm investido cada vez mais em insumos e colhido, proporcionalmente, menos soja por unidade aplicada. Enquanto o consumo de agrotóxicos, por exemplo, saltou 2.019% ao longo de três décadas, a eficiência na produção caiu 70%, segundo estudo divulgado pelo Instituto Escolhas nesta terça-feira, 10/6.
De acordo com o levantamento, em 1993 eram usadas 16 mil toneladas de defensivos na cultura da soja; em 2023, o número chegou a 349 mil toneladas. Ou seja, se antes apenas 1 kg de agrotóxico era suficiente para produzir 23 sacas da oleaginosa, agora essa mesma quantidade resulta em apenas sete sacas.
E com os fertilizantes não é diferente. A aplicação dos produtos cresceu 734% no período, passando de 728 mil para 6 milhões de toneladas. Em 1993, uma tonelada de fertilizantes à base de fósforo e potássio rendia 517 sacas de soja; em 2023, esse resultado caiu para 333 sacas.
Rentabilidade em queda
Essa perda de eficiência impacta diretamente o bolso do sojicultor, que viu as despesas com os insumos mais que dobrarem ao longo dos anos. Assim, quem antes precisava vender 11 sacas de soja para cobrir os custos com sementes, agrotóxicos e fertilizantes, agora precisa vender 23.
Outro desafio é que a produtividade por hectare avançou em ritmo muito mais lento do que o preço dos insumos. A área plantada cresceu 5% ao ano, passando de 11 milhões para 44 milhões de hectares no período, mas o rendimento por hectare aumentou apenas 2% anualmente – de 2.120 kg/ha para 3.423 kg/ha.
Liderança brasileira em xeque
Na safra 2024/2025, o Brasil deve bater o recorde de 168 milhões de toneladas de soja. Maior produtor mundial desde 2019, quando superou os Estados Unidos, o País aposta em um modelo que depende mais do aumento no uso de agrotóxicos, fertilizantes e da área plantada do que da produtividade em si – uma fórmula que ameaça o protagonismo brasileiro.
“O produtor usa cada vez mais agrotóxicos e fertilizantes para produzir cada vez menos soja. Isso afeta sua renda, que também é impactada pelo aumento de preço desses insumos”, afirma Jaqueline Ferreira, diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas e coordenadora do estudo.
Caminhos possíveis
Diante desse cenário, pesquisadores e técnicos têm defendido o fortalecimento de estratégias de uso racional de insumos, como o manejo integrado de pragas, o uso de bioinsumos e a agricultura de precisão.
Também crescem os debates sobre políticas públicas voltadas à autossuficiência em fertilizantes e à transição para sistemas de produção regenerativos, capazes de manter a produtividade com menor dependência química. Tudo isso pode contribuir para que o Brasil faça essa virada com escala, tecnologia e rentabilidade para o produtor.
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