Por André Garcia
Os desafios iniciais na adoção da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que em muitas propriedades incluem o planejamento e a tecnificação, vêm dando lugar a ganhos concretos em Mato Grosso. É o que relatam produtores de soja que usam a estratégia para diversificar a renda, recuperar o solo e abrir portas para novos mercados.
É o que já observa o produtor Cleto Webler, do município de Sapezal, que passou a investir na abordagem para ampliar e qualificar a produção. De acordo com ele, na prática a ILPF exige cuidados e atenção assim como qualquer cultura individual.
“O ILPF não muda em nada o manejo de uma soja bem plantada, de um milho ou do algodão. A questão também está ligada à agricultura regenerativa, e acredito que esse é o caminho. A gente percebe um ganho biológico, especialmente em áreas mais limitadas em teor de argila, onde estamos utilizando essas práticas”, relata Cleto.
Os efeitos são potencializados pela rotação de culturas como soja e milho consorciado com braquiária. Isso porque essa combinação favorece o acúmulo de matéria orgânica no solo, melhora a estrutura física e estimula a atividade microbiana, fatores essenciais para o aumento dos estoques de carbono.
Na Fazenda Gravataí, em Itiquira (MT), a prática exigiu tecnificação e certificações, mas em troca trouxe mais eficiência e proporcional avanços ambientais que fortalecem a sustentabilidade do negócio.
“Passamos a evoluir os conceitos de sustentabilidade e regeneração no nosso dia a dia e em nossas atividades, desde o campo até as estruturas”, explica o proprietário, Odair Fernando Ferrari.
Lá, os esforços incluíram ainda ações voltadas à preservação e recuperação de nascentes, fundamentais para o equilíbrio hídrico e a resiliência das lavouras frente à crise climática, que vem prolongando e intensificando os períodos de seca.
“Recuperamos as nove nascentes existentes nas propriedades, que passaram a ser utilizadas apenas em casos extremos, sempre com os devidos licenciamentos ambientais. Temos orgulho de poder fazer parte de atividades sempre voltadas ao zelo e ao cuidado com a sustentabilidade”, conta ele.
Apoio técnico
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) destaca o método como uma alternativa viável para ampliar a produtividade, diversificar a renda e garantir maior estabilidade econômica às fazendas. Por meio dos supervisores de relacionamento, a entidade vem apoiando os associados na implementação da ILPF.
Na avaliação do vice-presidente Oeste da Aprosoja-MT, Gilson Antunes de Melo, a estratégia é fundamental não só para a segurança alimentar atual, mas também para garantir a viabilidade da produção no longo prazo.
“Sustentabilidade é a palavra de ordem hoje na agricultura, na pecuária. Quando você tem uma utilização maior das áreas abertas, plantando soja, milho, plantando braquiária dentro do milho e fazendo uma terceira safra, isso traz renda para o produtor, traz segurança para o segmento e muita qualidade para o meio ambiente também”, diz.
Passaporte verde
Mais do que uma solução de manejo, a ILPF vem se consolidando como uma ponte entre a produção e o mercado de carbono. Ao conciliar produtividade com conservação ambiental, os sistemas integrados ampliam o leque de oportunidades para os produtores.
Segundo a Embrapa Agrossilvipastoril, sistemas ILPF podem sequestrar até 39,5 toneladas de carbono equivalente por hectare ao longo de quatro anos, superando as emissões de gases de efeito estufa da pecuária, por exemplo. Isso reforça o potencial da prática em um setor cada vez mais pressionado por exigências de sustentabilidade.
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