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Lucrativo, ILPF exige planejamento; veja como migrar

Lucrativo, ILPF exige planejamento; veja como migrarPlanejamento deve responder a quatro perguntas básicas. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia 

Pagamento por serviços ambientais, aumento na produtividade e segurança de mercado são algumas das vantagens já citadas pelo Gigante 163 para os produtores que optam pela integração lavoura, pasto, floresta (ILPF). Mas, para garantir lucratividade a partir da estratégia, é preciso um planejamento com metas e cronogramas bem estabelecidos.

Avaliações realizadas em cinco Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (Urte) com sistemas de ILPF, em Mato Grosso, evidenciam o papel do planejamento. As informações foram coletadas a partir da organização dos custos baseada no Sistema ABC (sigla do inglês Custo Baseado em Atividades).

Na comparação entre as cinco propriedades, a lucratividade varia de R$ 0,20 a R$ 3,70, ou seja, mais de 10 vezes para cada R$ 1,00 investido na produção. Já o Valor Presente Líquido Anual (VPLA), que é a receita por hectare a cada ano, variou de R$ 152,40 a R$ 2.175,00.

À reportagem, o pesquisador de sistemas integrados de produção da Embrapa Agrossilvipastoril de Sinop, Maurel Behling explicou como alcançar bons resultados.

“Embora os dados confirmem a viabilidade econômica dessas unidades, a correta definição da configuração do sistema e o estudo prévio de mercado são determinantes para garantir a competitividade do sistema. O melhor sistema de integração é aquele que se adequa à realidade de cada propriedade rural”, destaca.

De acordo com o pesquisador, o primeiro passo na hora de migrar para o sistema é buscar por um consultor técnico ou extensionista, que vai apontar a situação atual da propriedade. Esse diagnóstico serve como base para a elaboração de um plano de ações.

“É fundamental que o projeto contemple uma visão holística da propriedade rural, principalmente nas questões de logística, infraestrutura, disponibilidade de água e, principalmente, mão de obra. Outro fator importante para manter a sustentabilidade e a produtividade é a análise do mercado que vai consumir o que será produzido”, diz.

Estrutura e cronograma

A partir daí, é hora de pensar na estrutura física, considerando infraestrutura adequada para o manejo dos animais, proteção de aguadas e subdivisão em piquetes. O momento que os animais serão introduzidos ao sistema também é importante, já que a taxa de lotação está atrelada à densidade e altura das árvores e plantas forrageiras.

Para Maurel, um bom projeto tem que responder a quatro perguntas:

  1.  O quê? (qual espécie?);
  2. Por quê? (finalidade e vantagens);
  3. Como implantar? (escolha da área, preparo do solo, espaçamento e adubação);
  4. Como manejar? (cuidados zootécnicos, tratos culturais e silviculturais, proteção florestal, prevenção ao fogo, colheita e corte).

“É importante ressaltar que, por melhor que seja a proposta, com o tempo, sempre haverá ajustes pontuais. Estamos falando de processos biológicos sujeitos a uma infinidade de fatores não controláveis. O sistema é dinâmico e que deverá ser ajustado em função de avanços técnicos e de aspectos econômicos”, afirma.

Assim, a implantação da ILPF não pode ser realizada de um ano agrícola para o outro. Mesmo que os recursos financeiros e humanos sejam ilimitados, é imprescindível que a integração dos sistemas na fazenda se dê gradualmente. A recomendação é que a implantação não ultrapasse 20% da área total em um mesmo ano agrícola.

“Essa segmentação permitirá que os envolvidos adquiram conhecimentos e experiências práticas, fazendo com que erros iniciais sejam corrigidos conforme avança o processo. Além disso, inevitavelmente, os produtores concluirão que nem toda área da propriedade deverá ser destinada à integração.”

Rentabilidade

Ao passo em que a imprevisibilidade climática aflige o agronegócio e causa impacto não na produtividade, nos investimentos e nos movimentos financeiros de empresas e bancos, a ILFP, além de aumentar renda, fortalece a cadeia do agronegócio e garante melhores negócios.

“Com ganhos a partir do uso mais proveitoso da terra há geração de mais empregos no campo. Outra consequência é que o produtor aumentará sua renda líquida e terá maior estabilidade econômica com a redução de riscos e incertezas devido à diversificação da produção”, afirma.

Maurel cita um trabalho realizado pela Embrapa, Rede ILPF e Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que mostra que os sistemas de integração são menos sensíveis às variações de preços das commodities do que sistemas produtivos exclusivos de lavoura ou de pecuária.

“Mesmo nos piores cenários simulados, com queda de 15% no preço da soja ou da arroba do boi gordo, a ILPF permanece lucrativa.”

A estratégia garante ainda aumento nos estoques de carbono no solo, fundamental para mitigar os gases de efeito estufa (GEE). O critério, base de programas nacionais e internacionais, abre mais uma possiblidade de ganho, já que os benefícios ecossistêmicos são passíveis de pagamentos por serviços ambientais.

Outro bônus é o bem-estar e conforto animal com efeito significativo sobre o desempenho produtivo e reprodutivo, assegurado pelas condições mais saudáveis do ambiente. Segundo o pesquisador, além do ganho na produção de carne, o manejo adequado das árvores pode trazer incremento de até 20% na produção leiteira.

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