Por André Garcia
A taxação de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos importados do Brasil pode causar um prejuízo de até R$ 1 bilhão à pecuária de Mato Grosso no segundo semestre deste ano, dada a paralisação dos frigoríficos e o nível de incerteza que se instalou no mercado.
Segundo o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Oswaldo Pereira, as exportações de carne bovina ao mercado norte-americano já renderam cerca de 1 bilhão de dólares no primeiro semestre de 2025. Assim, se as sanções forem mantidas, o setor deixará de arrecadar valor semelhante nos próximos meses.
“Se trancar o segundo semestre, são mais 1 bilhão de dólares. São 2 bilhões de dólares no ano. Isso impacta muito no mercado e represa a nossa carne. Essa carne, que é exportada como excedente, vai ficar nesse mercado”, disse em entrevista coletiva.
Na prática, esse produto, que normalmente é absorvido pelo mercado externo, tende a pressionar os frigoríficos internamente, reduzindo as margens do produtor.
Queda no valor da arroba
Embora o mercado norte-americano represente cerca de 3% das exportações totais de carne de Mato Grosso, o volume vinha crescendo, tendo saltado de 20 mil toneladas ao ano para quase 300 mil, tornando os Estados Unidos um dos principais destinos da carne bovina de Mato Grosso.
Neste contexto, a previsão é de que, quando as compras forem retomadas, o valor da arroba deve diminuir. O setor já estima queda de R$ 300 para R$ 250, o que cria um cenário parecido ao de dois anos atrás.
“Vai abaixar o preço da arroba. Não vai abaixar o preço da carne, porque ela vai ser pulverizada em cem vezes. Mas imediatamente abaixa o preço da arroba. Isso é muito ruim para a gente”, explicou Oswaldo.
Nível de emprego
De acordo com o presidente da Acrimat, as ações dos frigoríficos já baixaram. Além disso, várias unidades suspenderam as compras de gado e esticaram as escalas de abate para até 30 dias. “Então você não consegue abater seus animais em uma semana, dez dias. Você começa a passar para 20 ou até 30 dias”, acrescenta.
A medida afeta diretamente os pecuaristas, especialmente no período seco, quando a necessidade de giro do rebanho é maior devido à perda de peso dos animais. Diante disso, a Acrimat já prevê reflexos sobre o nível de emprego nas propriedades rurais e nas indústrias de carne.
“Diminuindo o abate, diminui a contratação de funcionários na fazenda, diminui a contratação nos frigoríficos. Essa notícia teve um impacto semelhante ao de uma crise sanitária. Porque se para tudo e aí vamos pensar o que vai acontecer”, avaliou Oswaldo.
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