Por André Garcia
Sistemas agroflorestais (SAFs), reflorestamento e manejo da água estão ajudando pequenos produtores a se adaptarem aos efeitos da crise climática. As estratégias, em geral de baixo custo, indicam caminhos para reduzir perdas também na produção em larga escala, fortalecendo a competitividade do Brasil no mercado global.
É o que mostra um mapeamento nacional coordenado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), em parceria com instituições como a Fiocruz. Divulgado nesta quinta-feira, 25, o estudo identificou 503 iniciativas agroecológicas em 307 municípios brasileiros, envolvendo mais de 20 mil pessoas.
Segundo o levantamento, 31,4% das ações reúnem práticas de regeneração ecológica, como manejo do solo, sistemas agroflorestais e salvaguarda de espécies vegetais e animais. Entre essas estratégias, os SAFs se destacam, presentes em 10% das iniciativas mapeadas.
Além disso, 42% dessas ações atuam diretamente na gestão hídrica, enquanto 70,7% realizam manejo sustentável do solo. Essas práticas são essenciais para evitar perdas em períodos de seca ou de chuvas intensas, condições que já provocaram queda na produção em mais da metade das propriedades analisadas.
O estudo também aponta que 26,2% dos grupos utilizam tratamentos ecológicos de esgoto doméstico, como biofossas e círculos de bananeiras. Outros 22,3% contam com sistemas de captação de água da chuva, e 9,3% usam barraginhas ou caixas de contenção para armazenar água e reduzir a erosão do solo.
Os resultados serão apresentados em novembro, durante a Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30, em Belém (PA).
Mudanças climáticas afetam produção
Mais de 73% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil vêm dos sistemas alimentares, que englobam a produção agropecuária, o transporte e o processamento de alimentos. Esse modelo intensifica a crise climática, criando um ciclo em que a própria produção passa a ser afetada pelos fenômenos climáticos extremos.
Segundo o levantamento, 56,3% das propriedades envolvidas tiveram queda na produção. O aumento da temperatura foi citado por 73,4% dos grupos analisados, e 70,8% identificaram mudanças no calendário das chuvas – dois fatores que impactam diretamente o planejamento e a produtividade no campo.
As mudanças climáticas também estão provocando desequilíbrios na biodiversidade. O desaparecimento de espécies e variedades vegetais nativas foi registrado por 36,2% das áreas analisadas, seguido pelo de espécies animais nativas (30,4%) e variedades agrícolas (19,7%).
Diversificação que gera lucro
Entre as estratégias identificadas pelo estudo, os sistemas agroflorestais (SAFs) se destacam por combinar produção de alimentos, reflorestamento e absorção de carbono. A técnica também tem demonstrado grande potencial econômico.
Um estudo da Embrapa e do Banco Mundial, por exemplo, avaliou quatro modelos produtivos na Amazônia e mostrou que produtores que apostam em SAFs podem alcançar até nove vezes o valor investido, graças à diversificação de culturas como cacau, açaí e pimenta-do-reino.
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