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Doença respiratória em gado causa prejuízo por perdas na carcaça

Doença respiratória em gado causa prejuízo por perdas na carcaçaManejo adequado é fundamental para prevenção. Foto: Rafael Rocha/Embrapa

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Por André Garcia

Embora sejam esperadas temperaturas até 2°C acima da média no Centro Oeste, julho segue marcado por queda nos termômetros, acendendo o alerta entre os pecuaristas para o avanço das doenças respiratórias em bovinos (DRBs). O problema compromete o desempenho do rebanho e gera prejuízos diretos no abate, com redução do rendimento de carcaça e perda de bonificações por qualidade.

Ao Gigante 163, o médico veterinário Marlon Ribeiro explica que o problema começa no pulmão, mas suas consequências se espalham pelo corpo. Inflamações severas podem provocar pleuropneumonia, quadro em que o pulmão adere à parede torácica, restringindo movimentos respiratórios.

“O animal com aderência ali na costela tem uma certa dificuldade em fazer trocas respiratórias. Ele pode ter de 30% a 60% do pulmão comprometido e passar a caminhar menos e se cansar mais. E aí temos uma redução no desempenho”, afirma ele, que também é professor da Universidade de Cuiabá (UNIC).

O médico-veterinário e consultor técnico Vitor Hugo Padilha, destaca que os efeitos iniciais podem ser percebidos entre 3 e 15 dias, com índices de mortalidade elevados. Já os efeitos tardios aparecem com o tempo, quando se nota que mesmo os animais recuperados mantêm prejuízos produtivos.

“A doença respiratória não causa só o problema da mortalidade, mas também reduz o desempenho do animal ao longo da vida. Os mais jovens perdem a curva de crescimento na primeira fase da vida, que é fundamental para o seu desenvolvimento”, acrescenta Vitor Hugo.

Perda de rendimento no abate

A inflamação deixa marcas visíveis na carcaça, como aderências na pleura e na região da costela. No frigorífico, essas partes comprometidas precisam ser descartadas, reduzindo o peso útil e os prêmios pagos por qualidade. Segundo Marlon, ao acompanhar as rotinas dos abates, fica evidente que a questão ainda é subestimada no campo.

“Essas pneumonias costumam dar aderência na costela. Então é o que a gente chama de pleuropneumonia. E isso reverbera lá no abate, com redução de prêmio de carcaça e com o toalete do frigorífico, que acaba eliminando essas partes de aderência geradas nessa etapa.”

Ação precoce é decisiva

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não descarta episódios de frio intenso, com possibilidade de geadas em algumas partes do Centro Oeste. Além disso, a previsão aponta para poucas chuvas nos próximos dias, o que amplia a proliferação da poeira, considerada fator de risco para DRBs.

Diante disso, já mostramos como o manejo adequado, incluindo a presença de árvores no pasto e a imunização do rebanho pode prevenir as doenças. Ainda assim, se algum sinal clínico for identificado, o pecuarista deve ser ágil na busca por um diagnóstico correto, adotando o protocolo adequado para conter o impacto.

Nos casos mais severos, o tratamento em si pode representar risco à vida do animal, o que reforça a importância de agir antes que o quadro se torne crítico. “O animal que já está muito debilitado também pode morrer em virtude do tratamento também, que é muito forte. Isso torna o tratamento adequado ainda mais importante”, diz Vitor.

Fatores de risco e olhar estratégico

 Tanto Vitor quanto Marlon defendem que identificar os fatores de risco é tão importante quanto tratar a doença já instalada. Isso porque diferentes enfermidades podem ocorrer simultaneamente no rebanho e, muitas vezes, compartilham as mesmas causas. Por isso é preciso avaliar as condições da propriedade de forma ampla.

“O primeiro passo é acionar um veterinário sanitarista para realizar o diagnóstico da propriedade. É preciso ter cuidado com a automedicação do rebanho, porque o que a gente observa na prática é que não é só o frio que é indutor dos quadros de pneumonia. Muitos outros problemas podem estar acontecendo simultaneamente”, afirma Vitor.

A prevenção e o diagnóstico precoce também ajudam a evitar condutas equivocadas, como a automedicação, que pode agravar ainda mais o quadro clínico dos animais.

Para Marlon, além do diagnóstico clínico, o acompanhamento do abate se torna uma ferramenta valiosa de gestão sanitária. “Outra dica é fazer esse acompanhamento para identificar os fatores que estão impressos no animal ao longo da vida e dessa forma também identificar o que está acontecendo na propriedade”, conclui.

 

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