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Até 45% das terras desmatadas não são usadas pela agropecuária

Até 45% das terras desmatadas não são usadas pela agropecuáriaParceria entre produtor, mercado e governo pode mudar a situação. Foto: Toby Gardner

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Entre 90% e 99% de todo o desmatamento nos trópicos é causado direta ou indiretamente pela agropecuária. Porém boa parte disso – entre 35% e 45% – é desmatado à toa. Ou seja, não viram nem pastagem, nem lavoura. Essas são as principais conclusões de um novo estudo publicado na conceituada revista Science.

“Embora a agropecuária seja o motor final, as florestas e outros ecossistemas são frequentemente desmatados para especulação de terras, para projetos que foram abandonados ou mal concebidos, ou ainda terras que se mostraram impróprias para o cultivo, bem como devido a incêndios que se espalharam para florestas vizinhas a áreas desmatadas”, explica o Prof. Patrick Meyfroidt da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica.

O fato de a agropecuária ser o principal motor de desmatamento tropical não chega a ser novidade. Entretanto, as estimativas anteriores de quanta floresta foi convertida em terras agrícolas nos trópicos variavam muito – de 4,3 a 9,6 milhões de hectares por ano entre 2011 e 2015. As novas descobertas reduzem esse intervalo para 6,4 a 8,8 milhões de hectares por ano, e ajudam a explicar a incerteza nos números.

O estudo deixa claro ainda que são poucas as commodities responsáveis pela maior parte do desmatamento: mais da metade está ligada apenas a pastagens, soja e óleo de palma (dendê).

Os resultados apontam para a necessidade de as intervenções nas cadeias de fornecimento irem além do foco em commodities específicas e em mera gestão de risco. Elas precisam ajudar também a impulsionar parcerias entre produtores e mercados consumidores e governos. Isso precisa incluir fortes incentivos para tornar a agropecuária sustentável mais economicamente atraente ao mesmo tempo em que desincentiva a conversão de vegetação nativa e apoia os pequenos produtores mais vulneráveis.

Os autores dizem que isso deve incluir um foco mais forte nos mercados domésticos, muitas vezes os maiores impulsionadores da demanda por commodities, como o caso da carne bovina no Brasil, além de um fortalecimento de parcerias entre empresas, governos e sociedade civil nas jurisdições produtoras.

Nesse sentido, o estudo também chama a atenção para as falhas de iniciativas setoriais específicas, geralmente limitadas para lidar com os impactos indiretos. “Iniciativas setoriais para combater o desmatamento podem ter um valor inestimável, e novas medidas para proibir a importação de commodities ligadas ao desmatamento nos mercados consumidores – como as que estão em negociação na UE, Reino Unido e EUA – representam um grande passo para além dos esforços quase todos voluntários até agora para combater o desmatamento’, disse o Dr. Toby Gardner do Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo e Diretor da iniciativa Trase, de transparência para cadeia de fornecimento.

Ele afirma, no entanto, que fortalecer a governança florestal e do uso da terra nos países produtores deve ser o objetivo final de qualquer resposta política. “As cadeias de fornecimento e as medidas de sustentabilidade tomadas pelos consumidores precisam ser concebidas de maneira que também lidem com as formas indiretas através das quais a agropecuária está ligada ao desmatamento. Eles precisam levar a melhorias no desenvolvimento rural sustentável, caso contrário as taxas de desmatamento permanecerão teimosamente altas em muitos lugares”, acrescentou o Dr. Gardner.