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Seca provoca replantio de soja, eleva despesas e compromete milho

Seca provoca replantio de soja, eleva despesas e compromete milhoChuvas não foram suficientes para garantir o desenvolvimento das plantas. Foto: Aprosoja/MT

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Por André Garcia

A falta de chuva e a necessidade crescente de intervenções nas lavouras de soja pressionam o custo da safra 2026/27 e já leva muitos produtores a se prepararem para enfrentar mais gastos. Com plantio mais lento que a média histórica, crescem os relatos de replantio, perda da janela ideal do milho e aumento nos custos de produção.

Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), o plantio no Estado atingiu 96,36% da área, um avanço de 10,68 pontos percentuais na semana. O índice, contudo, segue 2,62 pontos abaixo do observado no mesmo período do ciclo anterior, e está abaixo da média dos últimos cinco anos, de 97,01%.

À Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MT), os sojicultores relataram que as chuvas não foram suficientes para garantir o desenvolvimento adequado das plantas, o que levou ao replantio. Com isso, surge outro problema, já que eles não conseguirão plantar a safra de milho na janela adequada ideal.

“É um ano muito difícil. Problemas de janela, de plantio de milho. Então, aqui foi uma área que a gente começou a plantar dia 13 de novembro, já muito fora da nossa expectativa, essa janela já não contempla mais o milho. O replantio chega a quase 10% da minha área de planejamento”, lamenta Regis Porazzi, de Tapurah.

Custos sobem diante do risco produtivo

Neste cenário, o risco produtivo tende a aumentar e pressionar as operações nas fazendas. De acordo com a primeira estimativa das despesas da soja para a safra 2026/27, divulgada pelo Imea nesta semana, mesmo com alguns insumos mais baratos, os custos da soja devem subir em 2026/27.

O custeio ficou em R$ 4.158,80 por hectare, leve queda de 0,54%, mas estimou alta no Custo Operacional Efetivo, que alcançou R$ 5.838,43 por hectare, e no Custo Operacional Total, que chegou a R$ 6.517,79 por hectare. No fechamento das contas, o Custo Total avançou para R$ 8.039,49 por hectare, 4,74% acima da safra passada.

No caso do produtor de Ipiranga do Norte, Vitor Gatto, para salvar a produção e não precisar fazer o replantio, foi utilizada a irrigação com pivô. Isso porque a soja plantada já se encontra no estágio reprodutivo, no momento do florescimento e formação das vagens, exigindo ainda mais de água

“É um custo a mais porque hoje não é barato você irrigar, você conduzir uma lavoura irrigada, o custo da energia ele é bem alto, mas a gente teve que usar a irrigação até mais do que no ano passado”, relatou Vitor, ao adiantar que para esta temporada a expectativa é de perda na produtividade.

Irregularidade das chuvas

As condições previstas para novembro e dezembro indicam chuvas irregulares, temperaturas acima da média.  A combinação reforça o padrão observado desde o início da safra em Sorriso, onde Diogo Damiani explica que, embora os trabalhos tenham começado acelerados, acabaram perdendo o ritmo por conta da seca.

“O que vinha acumulado de chuva em setembro e outubro praticamente não aconteceu, passamos os últimos 30 dias aqui com apenas 18 milímetros. Finalizamos o plantio aqui no município praticamente no dia 5 de novembro, um dos mais longos que nós contamos da história aqui do município”, conta.

Ele avalia ainda que as perspectivas para este ciclo pioram pela falta de armazenamentos na região, que tem somente 50% da capacidade de armazenar e exige dos produtores investimentos em bolsões para guardar os grãos.

Plantas vulneráveis

A cultura depende de uma boa distribuição de chuvas ao longo das fases vegetativas e reprodutivas, já que a demanda hídrica do ciclo varia entre 450 mm e 800 mm. Quando essa regularidade falha, o rendimento cai, como ocorreu na safra 2023/24, que foi marcada por estiagens no Centro-Oeste e no Matopiba e excesso de chuva no Sul.

Além disso, nessas condições a planta fica mais propicia a enfrentar doenças nos meses de janeiro e fevereiro. “A soja plantada nesta janela tem a incidência de mosca-branca e de doenças, vai ser muito grave, percevejo, a gente sabe disso aí. Então, é um desafio que vamos enfrentar lá na frente”, diz Porazzi.

Recentemente, a Aprosoja chegou a enviar um ofício ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) alertando que a seca e o calor intenso vêm comprometendo o desenvolvimento da soja em diversas regiões, provocando germinação irregular e falhas de estande, colocam em risco a produtividade do estado.

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